Com Rosa Weber, STF tem 8 votos para tornar réus 200 por ato golpista


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A ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), proferiu o oitavo voto para transformar mais 200 denunciados em réus na investigação sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas e amplamente depredadas por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Rosa Weber acompanhou integralmente o voto do relator dos inquéritos sobre o caso no Supremo, ministro Alexandre de Moraes. Também o acompanharam os ministros Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Dias Toffoli. Restam apenas os votos de André Mendonça e Nunes Marques.

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O recebimento ou não dessas 200 denúncias está sendo julgado em plenário virtual, no qual os votos são depositados eletronicamente, sem deliberação presencial. A sessão começou na terça-feira (25) e segue até as 23h59 da próxima terça (2).

Com a maioria formada, após o fim do julgamento os acusados passarão a responder a uma ação penal e se tornam réus no processo. Nessa etapa, Moraes deve analisar a manutenção da prisão preventiva dos acusados que ainda permanecem detidos.

Etapas

Uma primeira leva com 100 denúncias já foi aceita na semana passada, por 8 votos a 2. Na ocasião, somente Mendonça e Marques divergiram dos demais. Eles foram os únicos que defenderam que as denúncias deveriam ser julgadas pela primeira instância da Justiça Federal.

Em seu voto, Marques também relativizou a responsabilidade de pessoas presas no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. O ministro ponderou que nem todos cometeram crimes, e que seria preciso uma análise mais aprofundada da conduta de cada um para que se possa aceitar denúncias contra eles.

De outro lado, no voto desta semana, já seguido pela maioria do Supremo, Moraes ressaltou que os envolvidos nos atos de 8 de janeiro tentaram “destruir o regime democrático e suas instituições, pregando a violência, pleiteando a tirania, o arbítrio, a violência e a quebra dos princípios republicanos”.

Uma nova leva de 250 denúncias está marcada para ser julgada na próxima semana, em sessão virtual prevista para começar à meia-noite da próxima quarta-feira (3).

Volume de processos

Ao todo, a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou 1.390 acusações formais ao Supremo, todas contra pessoas que participaram diretamente dos atos de vandalismo ou que incitaram a violência. Até o momento, ninguém foi denunciado por financiar ou idealizar os atos golpistas.

A situação é inédita para o Supremo, que nunca tinha se debruçado sobre tantas denúncias simultâneas sobre um mesmo caso. As sessões virtuais foram a maneira encontrada por Moraes e pela presidente do Supremo, Rosa Weber, para lidar com tamanho volume de pessoas processadas. A medida, contudo, tem sido criticada por advogados.

A previsão é que o eventual recebimento de todas as denúncias seja apreciado até junho. Em seguida, deve ter início a fase de ação penal, com nova instrução processual e possível produção de novas provas e coleta de novos depoimentos, inclusive a pedido das defesas. Não há prazo definido para o julgamento final.

Petrobras reduz preço do diesel para distribuidoras


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A partir deste sábado (29), Petrobras irá reduzir o preço do diesel para as distribuidoras em R$ 0,38 por litro. Desta forma, o valor passará de R$ 3,84 para R$ 3,46 por litro.

“A redução do preço da Petrobras tem como objetivos principais a manutenção da competitividade dos preços da companhia frente às principais alternativas de suprimento dos seus clientes e a participação de mercado necessária para a otimização dos ativos de refino”, aponta nota da empresa. 

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Em nota, a companhia informou que “considerando a mistura obrigatória de 88% de diesel A e 12% de biodiesel para a composição do diesel comercializado nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor será, em média, R$ 3,05 a cada litro vendido na bomba”.

Segundo a Petrobras, com a redução para as distribuidoras, a parcela da empresa no preço ao consumidor será, em média, R$ 3,05 a cada litro na bomba, sem levar impostos, mistura de biocombustíveis e margem de lucro do distribuidor, fatores que afeta o valor final.
 

Bahia tem 27 municípios atingidos pelas chuvas 


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O governo da Bahia informou que pelo menos 27 cidades foram atingidas pelas fortes chuvas registradas nos últimos dias. Dessas, seis já decretaram situação de emergência: Santa Cruz Cabrália, Ilhéus, Belmonte, Itapebi, Porto Seguro e Caraíbas.  

Os demais municípios são: Anagé, Canavieiras, Caraíbas, Caravelas, Eunápolis, Guaratinga, Ibirapuã, Itabela, Itabuna, Itagimirim, Itamaraju, Itanhém, Jucuruçu, Lajedão, Medeiros Neto, Mucuri, Nova Viçosa, Prado, Teixeira de Freitas, Vereda e Vitória da Conquista. 

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Dados mais recentes contabilizam, em todo o estado, 75 pessoas desabrigadas, 7.591 pessoas desalojadas e 9.348 pessoas afetadas em decorrência dos efeitos diretos dos temporais, registrados desde o dia 21 deste mês. 

A Secretaria de Infraestrutura da Bahia informou que duas ocorrências seguem em atenção nas rodovias do estado. O rompimento de um bueiro na BA-283, entre Itabela e Guaratinga, deixou o trecho em meia pista. Outro bueiro rompido, na BA-001, entre Belmonte e Santa Cruz Cabrália, causou a formação de uma cratera e o tráfego de veículos passou a ser feito somente em metade da pista. 

Recursos 

O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, por meio da Defesa Civil Nacional, liberou o repasse de R$ 3,9 milhões para atender população atingida nos municípios de Santa Cruz Cabrália e Ilhéus. Os recursos serão repassados aos municípios em breve. De acordo com a pasta, Santa Cruz de Cabrália irá receber R$ 2,32 milhões e Ilhéus, R$ 1,59 milhão. “O montante para cada município leva em consideração os valores solicitados pelas prefeituras nos planos de trabalho enviados ao MIDR”, informa o ministério.

Rede de mulheres indígenas cineastas será lançada neste sábado


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Neste sábado (29), será lançada a Katahirine, a primeira rede de mulheres indígenas que se dedicam a produções audiovisuais. A rede nasce unindo 71 mulheres de 32 etnias. Entre elas, Graci Guarani e Olinda Wanderley Yawar Tupinambá, diretora e codiretora do projeto Falas da Terra (TV Globo), e Patrícia Ferreira Pará Yxapy, diretora de filmes que já participaram de festivais no Brasil e no mundo, como o Doclisboa, em Portugal, a Berlinale, na Alemanha e o Margareth Mead Film Festival, em Nova York, nos Estados Unidos.

O lançamento da primeira rede audiovisual de mulheres indígenas do Brasil está marcado para as 19h, em uma live no canal do Instituto Catitu no YouTube, com participação da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara. A iniciativa ocorre no âmbito do Abril Indígena, mês dedicado à promoção e valorização da cultura e história dos povos originários.

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A Katahirine – Rede Audiovisual das Mulheres Indígenas é aberta, coletiva e composta por mulheres que atuam nas áreas do audiovisual e comunicação. Seu principal objetivo é fortalecer a luta dos povos originários por meio do cinema. A rede nasce a partir da atuação do Instituto Catitu e começa a tomar forma com um mapeamento inédito das cineastas indígenas no Brasil.

A primeira iniciativa para dar visibilidade à produção audiovisual das mulheres indígenas é o site da rede, que será lançado também neste sábado. Ele funcionará como uma plataforma onde cada cineasta terá uma página com o perfil, a biografia e produções.

Futuramente, a rede planeja promover encontros entre as realizadoras de todo o país e organizar mostras. A Katahirine atuará ainda no desenvolvimento de estratégias de fortalecimento do audiovisual indígena e na proposição de políticas públicas que atendam à produção do cinema feito pelas mulheres indígenas.

“O audiovisual tem sido uma ferramenta de luta das mulheres indígenas. As produções cinematográficas têm contribuído para que elas reivindicam direitos, denunciem retrocessos e ocupem seu espaço na sociedade indígena e não indígena”, completa a cineasta Mari Corrêa, diretora do Instituto Catitu e responsável pela coordenação do projeto. Ela é referência na formação de cineastas mulheres indígenas no Brasil.

Graci Guarani

São Paulo (SP) - Primeira rede de cineastas mulheres indígenas do Brasil é lançada no Abril Indígena. - A cineasta Graciela Guarani lança o longa Horizonte Colorido. - Foto: Divulgação/Rede Katahirine

Graci Guarani começou suas produções há 15 anos – Divulgação/Rede

Natural de Mato Grosso do Sul, da aldeia Jaguapiru e da etnia Guarani Kaiowá, Graci Guarani é uma das cineastas indígenas que fazem parte da Katahirine. Ela é diretora do projeto Falas da Terra da TV Globo (2021 e 2023) e uma das diretoras da série Cidade Invisível da Netflix. Este ano lança seu longa-metragem Horizonte Colorido.

Para ela, a iniciativa de criar a rede pode colaborar para ampliar a produção audiovisual das indígenas.

“Acredito que a iniciativa pode ser um pequeno passo para podermos existir estatisticamente, pois é uma das demandas, poder reverberar estas produções também em catalogações, fazendo com que as iniciativas circulem e que as pessoas possam vir a conhecer mais sobre estas produções e suas criadoras. É uma iniciativa ainda que tímida e com um fôlego ainda no inicio, porém única no Brasil, e espero que tome corpo.”

A cineasta, que atualmente mora em Pernambuco, no território Pankararu, começou suas produções há 15 anos, mas afirma que só agora tem conseguido desenvolvê-las de forma digna.

“Os meus projetos autorais foram por um longo tempo produzidos sem qualquer incentivo. Hoje, depois de muita luta, estou conseguindo acessar alguns lugares onde posso desenvolvê-los com um pouco mais de dignidade, porém ainda está longe de poder alcançar o que de fato é o mínimo, emplacá-los em veículos de mercado/indústria. Porém, tive um avanço no sentido de cocriações em nível de ocupação política nos espaços do mercado, e desde então tento permanecer nos diálogos, para conseguir seguir perpetuando meu ponto de vista e ocupando com prioridade estes espaços.”

Conheça mais as produções da Graci Guarani clicando nos links a seguir: trailer Mensageiro do Futuro,  trailer do filme My Blood is Red, trailer Tempo Circular.

Olinda Tupinambá

A cineasta Olinda Tupinambá (foto em destaque) é da etnia que assina seu nome. “Mas, eu nasci no território Pataxó Lanh e entrei no Pataxó Lar, então também sou pataxó”, conta a também jornalista, documentarista e produtora de audiovisual, de 33 anos.

Para ela, a rede vem para incentivar o desenvolvimento de políticas públicas e dar visibilidade.

“Nós, cineastas encontramos para divulgação do trabalho, também para conseguir ter acesso aos editais. Vejo na rede uma possibilidade de a gente conseguir desenvolver políticas públicas para as mulheres que trabalham com audiovisual e a rede também vai ajudar a dar visibilidade a esses trabalhos.”

Olinda mantém um site onde divulga seus trabalhos, mas sabe que essa não é a realidade de outras cineastas. “Tem outras diretoras que não tem um site porque a gente sabe que custa mantê-lo, então a rede vai poder ajudar outras mulheres indígenas e ser importante para fortalecer a nossa luta.”

A cineasta foi codiretora do especial Falas da Terra, na TV Globo em 2021. Entre documentários, ficção e performances, produziu e dirigiu dez obras audiovisuais independentes. Participou das exposições Atos Modernos e Véxoa: Nós Sabemos, na Pinacoteca de São Paulo.

Representatividade

“Hoje as mulheres indígenas não são consideradas sequer como estatística perante a Ancine [Agência Nacional do Cinema]”, observa Olinda. “Se dentro da cadeia produtiva do audiovisual já é difícil ter representatividade de mulher, sabemos que a maior parte do recurso vai para os homens brancos, quando a gente fala em mulher – e em mulher indígena – é menos ainda, não vemos essa representatividade, por isso a rede vai fortalecer a nossa luta e vai dar visibilidade para essas mulheres e para os políticos saberem que precisam fazer políticas públicas para o audiovisual.”

Na opinião da cineasta, é necessário ter recursos para produção. “Estamos produzindo e precisamos de recurso para continuar a fazer cinema de qualidade, porque chega uma hora que cansa. Falam assim: ‘é indígena, está fazendo cinema de guerrilha’. Não, nós queremos poder pagar também o som direto, os profissionais, fazer trilhas originais para os nossos filmes. Hoje, absorvemos várias funções no audiovisual que se tivéssemos recursos poderíamos  pagar e desenvolver essa cadeia produtiva do audiovisual, empregando mais pessoas, mas para isso precisamos de recursos.”

Olinda começou no cinema ao final do curso de jornalismo. “Entendi que essa era uma boa ferramenta para gente falar sobre as questões que me inquietam. Nesse sentido, o meu cinema hoje vem na tentativa de dialogar com as pessoas e trazer a tona assuntos relevantes como a questão ambiental, o que me possibilita desenvolver na minha comunidade o projeto Kaapora.”

Origem da palavra Katahirine

Katahirine é uma palavra da etnia Manchineri que significa constelação. Assim como o próprio nome sugere, Katahirine é a pluralidade, conexão e a união de mulheres diversas que se apoiam e promovem mulheres indígenas no audiovisual brasileiro. Dessa constelação participam mulheres de todos os biomas, de diferentes regiões e povos, mulheres indígenas que se uniram com o objetivo de fortalecer a luta dos povos originários por meio do audiovisual.

Conselho Curador

A rede tem um conselho com a missão de garantir a participação indígena nas tomadas de decisão, promover articulações para incidência em políticas públicas que beneficiem a produção audiovisual das mulheres indígenas, elaborar e propor às demais os critérios da curadoria das cineastas e das obras, propor debates sobre temas relevantes para o coletivo, estabelecer diretrizes para o desenvolvimento das atividades da rede.

O conselho é formado majoritariamente por mulheres cineastas e pesquisadoras indígenas de diferentes etnias. Dele participam atualmente as cineastas indígenas Graciela Guarani, da etnia Guarani Kaiowá, Patrícia Ferreira Pará Yxapy, da etnia Mbyá-Guarani, Olinda Wanderley Yawar Tupinambá, da etnia Tupinambá/Pataxó Hã-Hã-Hãe e Vanúzia Bomfim Vieira, do povo Pataxó.

Fazem parte também Mari Corrêa, cineasta e diretora do Instituto Catitu, Sophia Pinheiro, artista visual e cineasta, e a jornalista Helena Corezomaé, da etnia Balatiponé.

Instituto Catitu

A Rede Katahirine foi concebida pelo Instituto Catitu, organização que atua junto aos povos indígenas para o fortalecimento do protagonismo das mulheres e jovens indígenas na defesa de seus direitos por meio do uso de novas tecnologias como ferramentas para expressar, transmitir e compartilhar conhecimentos a partir de suas visões de mundo.

Musical sobre Museu Nacional humaniza a ancestralidade


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Um palácio construído com a fortuna de um traficante de pessoas, que negocia vantagens para cedê-lo a uma corte colonial, que, por sua vez, dá lugar a um império que descende dela e começa a reunir objetos deslocados de diferentes culturas, entre elas, as que eram traficadas e exterminadas pela colonização. Os esqueletos no armário do Palácio de São Cristóvão não ficam de fora do musical Museu Nacional [Todas as vozes do fogo], que fará seu último fim de semana de apresentação no Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro.

O palácio era tudo isso, mas também lugar de produção de pensamento sobre um novo país, de nomes como Bertha Lutz; de formação de uma multidão de pesquisadores e de apresentação da ciência a milhares de estudantes que enchiam seus corredores em excursões escolares. O musical conta a história de um palácio que era tudo isso e foi consumido pelo fogo com seu acervo de 20 milhões de itens, e do país que o ergueu com toda essa complexidade e o deixou queimar.

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Quem recebe o público para essa visita guiada é Luzia, o crânio humano mais antigo do Brasil e sobrevivente do fogo que destruiu o palácio em 2 de setembro de 2018. A “primeira brasileira” é interpretada por Ana Carbatti, indicada ao Prêmio Shell de melhor atriz deste ano por Ninguém Sabe Meu Nome, em que uma mãe preta reflete sobre como deve criar seu filho em uma sociedade racista.

Rio de Janeiro (RJ), 27/04/2023 – A atriz Ana Carbatti, que participa da peça Museu Nacional dando vida a Luzia, nome dado ao fóssil humano mais antigo encontrado no Brasil. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Atriz Ana Carbatti, dá vida à Luzia, nome dado ao fóssil humano mais antigo encontrado no Brasil, no musical Museu Nacional – Tomaz Silva/Agência Brasil

Ana conta, em entrevista à Agência Brasil, que em Museu Nacional sua personagem é uma ancestral, mais no sentido humano no que no sentido solene desta palavra. “A princípio, eu tinha uma preocupação de que ela tinha que ser séria, em respeito a essa ancestralidade, em respeito a esse crânio sobrevivente. Mas, depois, a gente foi entendendo que não. Que a ideia era humanizar essa ancestralidade. Então, isso fez o trabalho ficar muito divertido pra mim. E, hoje, fazer a Luzia é uma alegria, me divirto muito”.

A Luzia que conduz a narrativa da peça lança mão do humor e da perspicácia para acessar o público em lugares diferentes da comoção com a tragédia. Museu Nacional não trata apenas disso, avisa Ana Carbatti, mas também de esperança e até de utopia.

“Se a gente perder a esperança, não precisa nem subir no palco. Subir no palco só pra falar das nossas mazelas, não precisa. Não é só pra isso. Acho que o teatro tem muitas funções, não pode ser só essa. A cultura é uma esperança, em si”.

Museu Nacional [Todas as vozes do fogo] é escrito e dirigido por Vinicius Calderoni, com direção musical de Alfredo Del-Penho e Beto Lemos, com 20 músicas originais. A diretora de produção e idealizadora do espetáculo, Andréa Alves, é da Sarau Cultura Brasileira, que completa 30 anos. O elenco conta com Adrén Alves, Alfredo Del-Penho, Beto Lemos, Eduardo Rios e Ricca Barros, todos da Companhia Barca dos Corações Partidos, e convida os atores e atrizes Adassa Martins, Aline Gonçalves, Felipe Frazão, Júlia Tizumba, Lucas dos Prazeres e Rosa Peixoto, além de Ana Carbatti, que concedeu entrevista exclusiva à Agência Brasil.

O musical passou por São Paulo no ano passado e encerra, nesta semana, as apresentações no Rio de Janeiro. Há expectativa de novas montagens em outros estados, ainda sem datas e locais definidos.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista com Ana Carbatti:

Rio de Janeiro (RJ) - Museu Nacional: Ana Carbatti humaniza ancestralidade como Luzia em musical. Foto: Annelize Tozetto

Museu Nacional: Ana Carbatti humaniza ancestralidade como Luzia em musical – Foto Annelize Tozetto – Direitos reservados

Agência Brasil: Acredito que nós, jornalistas, na época, não conseguimos traduzir para o público a dimensão do que significou essa tragédia, a perda que tivemos como sociedade e civilização com tudo que se perdeu no incêndio no Museu Nacional. Você acha que o teatro consegue dar conta de dimensionar isso?

Ana Carbatti: Não. Eu acho que o teatro não consegue dar conta. Eu acho que o máximo que o teatro pode fazer é abrir possibilidades, abrir um horizonte, abrir discussões. Eu acho que esse nem é o papel do teatro. Eu acho que a gente tem um papel parecido com o de vocês, de reportar e reunir diferentes depoimentos e diferentes sentimentos, para que a gente possa enxergar as coisas de diferentes pontos de vista. E eu acho que, nesse sentido, o espetáculo cumpre com esse papel, de apresentar que não é só o museu, não são só objetos, não são só essas pessoas que estão ali. É uma história que foi escrita por diferentes mãos e de diferentes formas. E o que a gente faz com isso daqui pra frente, o que que tá nas nossas mãos para encaminhar um futuro possível.

Agência Brasil: Aqui, no Rio, vocês tiveram um público que viveu o Museu Nacional, que passeou nele e o conheceu. A reação desse público foi diferente?

Ana Carbatti: A gente teve vários pesquisadores que vieram assistir ao espetáculo, estudantes, pessoas que fizeram mestrado e doutorado no museu. Essas pessoas vêm com uma energia muito diferente do geral. Elas vêm com uma energia mais difícil de explicar, porque é uma coisa muito de corpo, daquela vibração do momento, mas eu sinto, sim, que aqui a relação com o objeto que esse espetáculo trata é uma relação mais delicada, mais profunda. E tem a ver com a questão da ficha demorar para cair. E não só num lugar de “que pena que pegou fogo, que tristeza”. É mais do que isso. Aqui no Rio de Janeiro, a relação das pessoas com esse espetáculo é mais delicada, sim. É mais profunda. Mas, mesmo em São Paulo, a gente sente que, além da apreciação estética, que é a função do teatro, o espetáculo não fala só do museu, ele fala da história do Brasil, o museu é a história do Brasil. Eu acho que essa é a grande sacada nesse espetáculo. Não é só sobre o museu, é sobre como a gente constrói o nosso patrimônio, sobre como o Brasil constrói seu patrimônio. Então, eu acho que isso fala a todos os brasileiros, em qualquer lugar do país. E, quiçá, se a gente tiver um futuro internacional, eu acho que vai falar a todas as pessoas do mundo, em qualquer lugar do mundo.

Agência Brasil: E, como carioca, você frequentou o museu e teve uma relação com o museu? O que você tinha de lembrança com esse museu que você reencontrou com a peça?

Ana Carbatti: A Quinta da Boa Vista foi, na minha infância, o lugar da reunião, de fazer piquenique com a família, e depois visitar o museu e o zoológico. E a minha família é muito grande, tanto a materna quanto a paterna, e a gente se reunia muito. Então, eu visitei muitas vezes esse museu. Também com a escola, várias vezes. Com pai, mãe, a família. Meu irmão é antropólogo e fez mestrado e doutorado lá. Tenho uma história íntima com esse espaço físico. E eu fui educada no período da ditadura. Não tive nenhum contato com as informações sobre a história da Quinta da Boa Vista que a gente traz no espetáculo. Só fui ter acesso muito mais tarde, porque na escola a gente não falava disso. Falava que era residência imperial e isso que era importante.

Agência Brasil: E não que era um palácio construído por um traficante de gente.

Ana Carbatti: Absolutamente. Na minha época, isso não era assunto de escola. Eu fui educada no período da ditadura. Hoje, pensar nesse espaço com essa outra perspectiva é uma coisa bem marcante. 

Agência Brasil: Como conceber a personalidade e a personagem Luzia a partir de um texto e de um fóssil? 

Ana Carbatti: Não foi fácil. Foi, primeiro, um grande mistério, porque, como você dá corpo pra um esqueleto de uma forma que não seja óbvia, caricata. E o Vinícius é um diretor muito generoso e muito aberto, tem uma escuta incrível para qualquer movimentação dos atores. O texto foi criado em sala de ensaio, tudo foi criado nesses quatro meses de trabalho. Então, isso foi deixando de ser um mistério ao longo do processo. Como era uma construção coletiva, com o Vinícius com a função de amarrar essas ideias e passar para o público de uma maneira que comunicasse de uma forma mais efetiva, foi facilitando o processo, foi tirando o mistério. Pra mim, a palavra-chave é anfitriã. A mulher mais antiga. Essa ancestralidade que é uma coisa com a qual tenho intimidade, por causa da minha história pessoal, foi um mote pra mim. Ela é a primeira e a anfitriã que recebe e conduz as pessoas. A princípio, eu tinha uma preocupação de que ela tinha que ser séria, em respeito a essa ancestralidade, em respeito a esse crânio sobrevivente. Mas, depois, a gente foi entendendo que não. Que a ideia era humanizar essa ancestralidade. Então, isso fez o trabalho ficar muito divertido pra mim. E, hoje, fazer a Luzia é uma alegria, me divirto muito. Deixo o corpo ir falando, e o texto do Vinícius é um texto muito vivo. A história dessa peça não é uma história que se repete. Todo dia faço uma Luzia nova. É como se ela entrasse em cena para dizer que o museu é um ato.

Agência Brasil: Você também fez a Clementina de Jesus no teatro. Queria saber como essas duas mulheres conversam e como conversam com você. 

Ana Carbatti: São dois presentes na minha vida. Quando fiz Clementina, há 10 anos atrás, eu nem era fã, eu conhecia, mas eu não tinha todos os álbuns e ouvia diariamente em casa. Esse contato profundo com ela e com a história dela mexeu muito comigo. A Luzia e a Clementina falam muito entre si por essa questão óbvia da ancestralidade. O fato de a Clementina ter ganhado notoriedade já como uma senhora, uma anciã, foi o que deu e vai dar a ela no futuro esse caráter de que a gente pensa nela como um ser, não é só mais uma cantora que apareceu. Os ensinamentos e transformações que ela trouxe para a música brasileira, a representatividade que ela trouxe, nos mais profundos sentidos dessa palavra, para o cancioneiro brasileiro é gigantesca. Ela chega em um momento em que ela transforma a música brasileira e a pesquisa musical brasileira. E a Luzia, enfim, 12 mil anos, né? Eu acho que Luzia e Clementina falam entre si a história desse país e desse continente, sobre em que base a gente constrói as nossas vigas e os nossos pilares. E, comigo, elas são um presente. É um presente muito grande para uma atriz madura ter esses personagens que vão muito além do meu corpo físico e do meu pensamento como indivíduo. É muito engrandecedor e muito especial.

Rio de Janeiro (RJ) - Museu Nacional: Ana Carbatti humaniza ancestralidade como Luzia em musical. Foto: Annelize Tozetto

Museu Nacional: Ana Carbatti humaniza ancestralidade como Luzia em musical – Foto Annelize Tozetto – Direitos reservados

Agência Brasil: A Luzia fala que está cansada de resistir e sobreviver. Eu acho que essa fala ecoa para os brasileiros de uma forma muito forte. Como você vê esse eco em todos nós brasileiros, e principalmente nas mulheres negras?

Ana Carbatti: É muito profundo isso. É uma luta muito antiga. E é uma luta que tem suas transformações, mas parece que não tem fim. Acho que o cansaço é um pouco esse. Eu escuto muitas jovens negras dizendo que estão cansadas de explicar. Meninas de 20 e poucos anos, ativistas, que falam que não querem mais explicar, que esse não é o seu papel, e é muito louco se você pensar que é uma menina que acabou de começar a vida e está cansada. É uma luta ancestral e é cansativa, é muito cansativa para o povo brasileiro, para qualquer pessoa que entende o mundo para além do próprio umbigo, se você é uma pessoa que nasceu nesse país e que constrói nesse país. A gente tem esse problema, porque, além de todas as divisões no país, de raça, classe e gênero, a gente ainda tem essa divisão da produção, de que pouca gente fala. A gente tem um grupo imenso que produz nesse país e realmente gera as divisas desse país. E a gente tem um grupo que desfruta dessas divisas e não precisa produzir. Que nasceu em berço de ouro. E é uma gente que cansa muito, porque essa gente determina muito o pensamento de uma parcela da população, o modus operandi da população, e é cansativo pra caramba. Para qualquer brasileiro que produz nesse país, e que tá ocupado com o que acontece ao nosso redor, essa frase ecoa, em qualquer dessas pessoas, porque é uma luta diária. É um leão por dia para todo brasileiro. Mas é um leão e meio ou dois leões para algumas outras pessoas que ainda precisam lutar contra preconceitos.

Agência Brasil: Você começou pensando a Luzia como uma pessoa séria e depois o humor veio chegando. O humor está presente na peça até em momentos que falam de assuntos pesados. Ele é uma forma de ajudar a processar essa crítica social e todas as camadas dessa tragédia?

Rio de Janeiro (RJ) - Museu Nacional: Ana Carbatti humaniza ancestralidade como Luzia em musical. Foto: Annelize Tozetto

Museu Nacional: Ana Carbatti humaniza ancestralidade como Luzia em musical – Foto Annelize Tozetto – Direitos reservados

Ana Carbatti: Sem sombra de dúvida. O teatro é entretenimento, e a gente nunca pode perder de vista essa função, e também de educar, porque também é educação. O teatro é uma das ferramentas mais importantes da cultura mundial. Em vários países, é tratado como uma atividade nobre. Aqui, não. Mas é entretenimento, que vai fazer você pensar, sentir. Então, a gente nunca deve abrir mão dessa possibilidade. Eu acho que ajuda a processar, sim, mas não é só esse o papel do humor, não é só aliviar o clima para entender melhor. É para que a gente consiga abrir todos os canais possíveis de comunicação. Eu preciso, como atriz, quando estou no palco, que você, espectador, esteja com todos os canais abertos. Você precisa estar desprovido de barreiras, de ideias preconcebidas. Você precisa estar com a mente aberta para receber aquilo e responder pra mim. Se eu estou, ali, fazendo um monte de coisas com uma pessoa parada, que não ri, não chora, não tosse, não se mexe, o teatro não está acontecendo. O humor é um dos canais de acesso ao espectador para que ele possa ficar totalmente aberto, com todos os sentidos abertos. A gente sobe no palco e começa a ir escavando até chegar em você, e a gente tem que usar todas as ferramentas, e o humor é uma delas. 

Agência Brasil: Vocês se prepararam e estrearam em São Paulo em um momento em que o rumo das eleições ainda estava incerto. E agora se apresentaram no Rio, em um momento totalmente distinto. Como foi apresentar a peça nesses dois momentos?

Ana Carbatti: No primeiro momento, em São Paulo, antes das eleições, as pessoas, todos nós, estávamos à flor da pele. Tinha um perigo iminente. Tinha um meteorito pendurado em cima da gente que podia cair a qualquer momento, e foi um período muito assustador. A primeira vez que entramos no palco e apresentamos esse espetáculo, eu fiquei muito assustada, porque é nesse momento que você reconhece que está todo mundo andando no precipício mesmo, que não sou só eu me sentindo assim, que a gente está comungando desse sentimento aqui. Era uma coisa que arrepiava a gente, e o espetáculo terminava com essa sensação de esperança, de que as coisas iam mudar, e de que a gente ia sair da beira do precipício. Já aqui no Rio de Janeiro, eu falei muito em casa, pro meu marido, que as pessoas iam questionar que importância tinha isso agora, que isso que eu estava falando já não falava com as pessoas, porque o Brasil já estava se transformando em um outro país. E eu estava completamente errada, porque esse sentimento de esperança ainda está pulsando dentro da gente. A gente está em um caminho que é diferente, mas a gente ainda não tem garantia de nada. E eu acho que ter vivido esse perigo deixou a nossa população mais atenta, então, eu sinto que a plateia desse teatro é uma plateia mais atenta e mais crítica, que sabe que ainda estamos pisando em ovos, que as coisas não mudaram ainda. 

Agência Brasil: No meio de toda a tragédia que é apontada na peça, desde a colonização até o incêndio, vocês ainda encontram espaço para contar uma utopia. A esperança é um tom da peça de forma geral, impulsionar os brasileiros a construir a partir de escombros, como diz o texto?

Ana Carbatti: Se a gente perder a esperança, não precisa nem subir no palco. Subir no palco só pra falar das nossas mazelas, não precisa. Não é só pra isso. Acho que o teatro tem muitas funções, e não pode ser só essa. A cultura é uma esperança, em si. E eu acho que a gente tem que fazer esse nosso papel de dizer, mesmo quando as coisas terminam em tragédia, que estamos aqui, que o presente é agora. E é muito bom essa ideia de ter um entendimento do passado para que possa viver o presente e construir o futuro. Sempre. Essa deve ser uma perspectiva de todos os indivíduos. Vamos entender o passado para que a gente possa viver o presente, olhando de verdade para o futuro. O problema da humanidade hoje é que precisa olhar para o futuro com um pouco mais de proatividade, porque ele está começando a ficar comprometido.

Agência Brasil: A peça é muito contundente na crítica antirracista, e vocês se apresentaram em casas em que talvez a maioria da plateia fosse branca. Como essa crítica está ecoando na plateia? Ela é acolhida, ela causa contrariedade?

Ana Carbatti: Graças a Dionísio, tudo isso. A gente tem, na plateia, as pessoas que entendem. Uma das canções que está mais relacionada a isso é sempre ovacionada. A plateia do teatro é majoritariamente não negra, apesar de que hoje, eu, que estou nessa carreira há 30 anos, vejo muito mais pessoas negras na plateia do que eu via quando eu comecei. Mas [a branca] ainda é a população que domina a cidade financeiramente, então ainda é a população que mais vai ao teatro. E eu fico muito feliz que a gente tem todas as reações. Acho que a contrariedade faz parte desse pacote. Ouvir e não gostar. Teve um dia, em uma plateia no Rio, que tinha um senhor sentado muito na frente. Quando eu falei “a cultura branquitude desapareceu”, ele fez “aaahhh”. E eu tive vontade de rir. E, quando terminou, e ele aplaudiu o espetáculo, ele era uma pessoa que estava muito feliz de ter visto. E eu associei aquele “ah” àquela pessoa que estava aplaudindo efusivamente no teatro. O “ah” dele foi de, por que estão me tirando dessa história? Eu não quero ser tirado, eu quero fazer parte. Mas tem gente que não quer fazer parte disso. E essas pessoas vão receber essa crítica da forma objetiva que ela vem: “sinto muito, mas não vai ter futuro”. Se você pensa que vai existir nesse mundo sem nós, eu lamento te informar, mas o caminho aponta o contrário. Então, abre teu olho. Acho que chega em todo mundo. Não tem como não chegar. Só se a pessoa não usa a internet, não lê jornal, não vê televisão, não é possível. Tem que estar chegando de alguma forma. É um assunto, esse [antirracismo] e todo o assunto relacionado à inclusão no seu sentido mais amplo, que faz parte do nosso cotidiano hoje. Vai ter que conviver com isso amigues, não vai ter outro jeito.

Fortaleza e Fluminense jogam de olho na liderança do Brasileiro


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De olho na ponta da classificação do Campeonato Brasileiro, Fortaleza e Fluminense medem forças, a partir das 16h30 (horário de Brasília) deste sábado (29) na Arena Castelão, pela terceira rodada da competição. A Rádio Nacional transmite o confronto ao vivo.

Os dois times chegam bem a esse compromisso. O Fortaleza, treinado pelo argentino Juan Pablo Vojvoda, carrega uma invencibilidade de oito jogos (seis vitórias e dois empates). Na última quarta-feira (26), o Tricolor do Pici bateu o Águia de Marabá fora de casa por 2 a 0, confirmando sua classificação para as oitavas de final da Copa do Brasil.

Na Copa Sul-Americana o Fortaleza obteve duas vitórias em dois jogos e lidera o Grupo H. Os atacantes Lucero e Thiago Galhardo são os líderes da equipe no quesito bola na rede. Na temporada o argentino tem 12 gols e o brasileiro 11. Agora, o Leão do Pici busca mais uma vitória jogando em casa.

Já o Fluminense vem de sete vitórias seguidas. A equipe, que apresenta um futebol vistoso e agrada os torcedores, não à toa é o líder do Brasileirão até o momento. São cinco gols marcados e nenhum sofrido até então na competição.

A dupla Cano e Árias é responsável pela maior parte dos gols da equipe. Essa parceria tem dado certo desde 2022, quando juntos marcaram 60 gols. Neste ano o colombiano tem marcado menos gols (são apenas dois na temporada), mas as assistências seguem a todo vapor: nove em 18 jogos. Germán Cano, por sua vez, tem mais gols do que jogos na temporada: 20 tentos em 19 partidas.

O técnico Fernando Diniz avalia o momento positivo do time como sendo consequência de um trabalho de longo prazo: “Vai completar um ano que estamos juntos na minha segunda passagem aqui, e temos consciência que nossa força está num senso bom de realidade. Sabemos nossos alcances e limitações. Vamos seguir com o pé no chão e humildemente melhorando”.

Transmissão da Rádio Nacional

A Rádio Nacional transmite Fortaleza e Fluminense com a narração de André Marques, comentários de Waldir Luiz, reportagem de Maurício Costa e plantão de Bruno Mendes. Acompanhe o Show de Bola Nacional aqui:

* Colaboração de Pedro Dabés (estagiário) sob supervisão de Verônica Dalcanal.

Funai avança em reconhecimento de terras Krenak e Munduruku


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No mesmo dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou os decretos de homologação de seis terras indígenas após cinco anos de paralisação, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) avançou nos processos de reconhecimento de outros dois territórios.

Na noite desta sexta-feira (28), a presidente da autarquia, Joênia Wapichana, despachou os atos de identificação e delimitação da Terra Indígena Krenak de Sete Salões, no município de Resplendor, sudeste de Minas Gerais; e da Terra Indígena Sawre Ba’pim, ocupada tradicionalmente pelo povo Munduruku, no município de Itaituba, estado do Pará, no médio rio Tapajós.

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Segundo a Funai, a identificação e delimitação se dá após a conclusão e aprovação dos estudos antropológicos, históricos, fundiários, cartográficos e ambientais das áreas pela Presidência da fundação. Isso corresponde a uma das principais etapas do processo demarcatório, seguida da declaração, homologação e, por fim, a regularização. Na área Krenak vivem, ao todo, cerca de 700 indígenas. Já na terra Munduruku, cerca de 240 famílias são abrangidas pelo reconhecimento, que somam a outras três áreas da mesma etnia onde vivem cerca de 1 mil pessoas.

“Depois de sete anos, a Funai está delimitando novamente terras indígenas. A Funai voltou a cumprir suas atribuições constitucionais, institucionais”, celebrou Joênia Wapichana.

Laboratório de torturas

Durante a ditadura militar (1964-1985), a área onde vive o povo Krenak foi palco de uma das maiores violações de direitos humanos desse período. O governo autoritário chegou a instalar dentro do território dois reformatórios que serviram de prisão e tortura de indígenas do país inteiro. “Foi um laboratório de tortura”, descreve Geovani Krenak, um dos líderes da comunidade. “O meu avô foi uma dessas vítimas da tortura, teve que fugir do país e morreu no exílio”, relata.

A Comissão Nacional da Verdade, em seu relatório final, publicado em 2013, apresentou 13 recomendações relacionadas aos povos indígenas. Entre elas, um pedido público de desculpas do Estado brasileiro aos indígenas pela tomada de suas terras e demais violações de direitos humanos, além da instalação de uma Comissão Indígena da Verdade. Ao todo, estima-se que mais de 8,3 mil indígenas possam ter morrido em decorrência dos crimes da ditadura.

Além disso, o povo Krenak viveu mais recentemente o que talvez seja a maior catástrofe de sua história. O rompimento da barragem de rejeitos de minério de Fundão, em Mariana (MG), contaminou a flora e fauna de uma das maiores bacias hidrográficas do país, a do Rio Doce, um rio sagrado para os Krenak, chamado pelos indígenas de Watu.

O rompimento da barragem, controlada pelas mineradoras Vale e BHP Billinton, do Canadá, provocou a morte de 19 pessoas e a perda de mais de 11 toneladas de peixes por asfixia. Foi a morte biológica do Rio Doce. A área de Sete Salões, que agora avança em seu processo demarcatório, é o único reduto preservado do povo Krenak.

“Sete Salões se tornou a principal forma de sobrevivência Krenak, porque lá ainda nós temos água, bichos, ervas medicinais. Com o crime de 2015, acabou tudo que a gente tinha no território e esta se tornou a única forma de perpetuação da cultura, sobrevivência do povo Krenak e nosso fortalecimento espiritual”, explica Geovani.

Em 2021, a Justiça Federal chegou a condenar a União pelos sucessivos crimes do Estado brasileiro contra os povos indígenas da região, em uma ação movida pelo Ministério Público Federal. A sentença determinou ao governo federal que fizesse um pedido formal de desculpas e acelerasse o reconhecimento da área de Sete Salões.

Garimpo e agrotóxicos

Já na Amazônia, o Rio Tapajós é, atualmente, alvo de uma série de ameaças ambientais e étnicas contra o povo Munduruku. “As lideranças que moram no território são pressionadas por fazendeiros, estão doentes por agrotóxicos. É um território que é fonte de sobrevivência para nós”, conta Beka Munduruku, que acompanhou a assinatura do relatório de delimitação da Terra Indígena Sawre Ba’pim, de mais de 150 mil hectares. A área abrange parte das margens do rio, considerado sagrado pelo povo.

“Mais da metade das terras indígenas do Brasil ainda não possui segurança jurídica. É onde há mais violência”, observa Weibe Tapeba, secretário especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, que também participou da cerimônia.

Brasília (DF), 28/04/2023 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o encerramento do Acampamento Terra Livre. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Brasília (DF), 28/04/2023 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o encerramento do Acampamento Terra Livre. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Demarcações

Pela manhã, o presidente Lula assinou os decretos de homologação de seis terras indígenas. O ato aconteceu durante o encerramento do Acampamento Terra Livre 2023, em Brasília. Os processos estavam parados desde 2018, pois o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que não faria nenhuma demarcação durante seu governo.

As áreas homologadas para usufruto exclusivo indígena são:

Terra Indígena (TI) Arara do Rio Amônia, no Acre, com população de 434 pessoas e portaria declaratória do ano de 2009.

TI Kariri-Xocó, em Alagoas, com população de 2,3 mil pessoas e portaria declaratória do ano de 2006.

TI Rio dos Índios, no Rio Grande do Sul, com população de 143 pessoas e portaria declaratória de 2004.

TI Tremembé da Barra do Mundaú, no Ceará, com população de 580 pessoas e portaria declaratória do ano de 2015.

TI Uneiuxi, no Amazonas, com população de 249 pessoas e portaria declaratória do ano de 2006.

TI Avá-Canoeiro, em Goiás, com população de nove pessoas e portaria declaratória do ano de 1996.

STF tem placar de 7 a 0 para tornar réus mais 200 envolvidos no 8/1

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou nesta sexta-feira (28) para tornar réus mais 200 envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. Com o voto do ministro, o placar do julgamento está em 7 a 0 pelo recebimento das denúncias contra os acusados.

Nessa quinta-feira (27) foi formada a maioria de votos a favor das denúncias. Também votaram no mesmo sentido o relator, Alexandre de Moraes, e os ministros Dias Toffoli, Cármem Lúcia, Luiz Fux, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso. Faltam os votos de Rosa Weber, André Mendonça e Nunes Marques.

A votação virtual sobre o recebimento das denúncias feitas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) vai até as 23h59 de terça-feira (2). Na modalidade virtual, os ministros depositam os votos no sistema eletrônico e não há deliberação presencial.

Após o fim do julgamento, os acusados passarão a responder a uma ação penal e se tornam réus no processo. Em seguida, Moraes vai analisar a manutenção da prisão dos acusados que ainda permanecem detidos.

Na semana passada, na primeira votação sobre o caso, a Corte aceitou denúncia e tornou réus os primeiros 100 investigados pela participação nos atos.

STF tem quatro votos para manter fim de boa-fé no comércio de ouro


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O Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgar nesta semana a validade da decisão que suspendeu a lei que autoriza que a procedência do ouro comercializado no país seja atestada pelo vendedor do metal. O mecanismo é chamado de boa-fé do vendedor de ouro.

No dia 5 de abril, o ministro Gilmar Mendes atendeu ao pedido liminar feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e suspendeu um trecho da norma.

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Após a decisão, o caso passou a ser julgado pelo plenário virtual da Corte, modalidade na qual os ministros inserem os votos no sistema eletrônico e não há deliberação presencial.

Até o momento, além de Mendes, estão referendando a decisão os ministros Edson Fachin, Dias Toffoli e Cármen Lúcia. A votação vai até terça-feira (2). Faltam os votos de seis ministros.

No voto em que referenda sua própria decisão, Gilmar Mendes diz que o fim da figura do vendedor de boa-fé é necessário para coibir o garimpo ilegal no país.

 “As evidências de danos ambientais, com consequência para a saúde da população, especialmente dos povos indígenas, e de aumento da violência nas regiões de garimpo demonstram a urgência no deferimento da medida cautelar pleiteada”, escreveu o ministro.

Entenda

O caso foi decidido em uma ação protocolada pelo Partido Verde em janeiro deste ano. O partido questionou a legalidade do Artigo 39 da Lei 12.844 de 2013, norma que definiu a prova de regularidade na compra e venda de ouro.

O dispositivo estabeleceu a presunção de legalidade de origem para quem vende e a boa-fé para quem compra o metal. Dessa forma, a legalidade da origem do ouro é atestada com base nas informações prestadas pelo vendedor.

Com a decisão do STF, a legalidade do comércio deve ser acompanhada pelas distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVMs), corretoras de ativos autorizadas pelo Banco Central a realizar o comércio de ouro.

Desabamento de prédio em Olinda causa três mortes


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Cinco pessoas foram resgatadas com vida dos escombros do Edifício Leme, que desabou na noite desta quinta-feira (27), em Olinda, região metropolitana do Recife. Foram registradas três mortes.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, das cinco vítimas, duas estavam em estado grave e três com ferimentos leves. São três mulheres entre 25 e 30 anos de idade e dois homens, de 44 e 53 anos, respectivamente.

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As equipes, com 34 profissionais, continuam o trabalho de resgate no local, além do uso de cães treinados para situações de emergência.

Causas

As causas do desabamento estão sob investigação de peritos da prefeitura. Algumas pessoas relataram que, antes do desmoronamento, ouviram um estrondo.

A Prefeitura de Olinda informou, em nota, que o Edifício Leme foi interditado em 2000, pela Defesa Civil, após uma vistoria conjunta entre o estado, município e a Universidade Federal de Pernambuco. Na ocasião, foi exigida a demolição do imóvel pela seguradora e vigilância do prédio para evitar a ocupação.

A administração municipal cita outros casos de prédios interditados e com ações na Justiça que solicitam a demolição. “Hoje, no entanto, existem casos em que a Justiça já determinou a demolição do imóvel, após a ação da prefeitura, porém a seguradora se recusa a dar cumprimento à ordem judicial. E isso mesmo sendo cobrada multa diária no caso de descumprimento”, diz nota da prefeitura.

O prefeito de Olinda, Professor Lupércio, informou que os órgãos do município estão mobilizados para atender as vítimas. “Estamos mobilizados para prestar toda assistência para as vítimas do Edifício Leme, que desabou há pouco, em Jardim Atlântico. Todas as secretarias de Olinda seguem de prontidão para ajudar no que for preciso”, disse o prefeito, em seu perfil no Twitter.