Fortaleza derrota Fluminense e vira líder provisório do Brasileirão


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O Fortaleza tomou do Fluminense a liderança do Campeonato Brasileiro, pelo menos de forma provisória. Neste sábado (29), o Tricolor cearense derrotou o carioca por 4 a 2, na Arena Castelão, pela terceira rodada da competição. A Rádio Nacional transmitiu a partida ao vivo.

Com sete pontos e saldo de cinco gols, o Leão do Pici depende dos resultados de Palmeiras e Red Bull Bragantino – que enfrentam Corinthians e Cruzeiro, respectivamente, ainda neste sábado – para saber se passará a noite na ponta isolada ou se dividirá o posto com os rivais. Tanto Verdão como Massa Bruta têm saldo de um gol.

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O Fluminense, com seis pontos, teve finalizada uma sequência de sete vitórias consecutivas na temporada. O Tricolor pode sair do G6 (seis primeiros colocados, que se classificariam à Libertadores se o Brasileirão terminasse agora) caso Botafogo, Palmeiras, Vasco, Internacional e Bragantino ganhem na rodada.

Pensando no compromisso de terça-feira (2), às 21h, diante do River Plate (Argentina), no Maracanã, no Rio de Janeiro, pela Libertadores, Fernando Diniz escalou o Fluminense sem cinco titulares habituais. O Fortaleza aproveitou o melhor entrosamento e fez 2 a 0 com Thiago Galhardo e Moisés, aos 28 e 34 minutos do primeiro tempo. O também atacante Alan descontou pouco antes do intervalo.

Na etapa final, Moisés anotou o terceiro do Leão do Pici, aos 14 minutos. O atacante John Kennedy diminuiu novamente aos 23, mas, dez minutos depois, o volante Hércules marcou o quarto dos anfitriões, dando números finais ao duelo na capital cearense.

Fortaleza, CE - Brasil - 29/04/2023 - Campeonato Brasileiro 2023 - Fortaleza derrota Fluminense e vira líder provisório do Brasileirão. Foto: Mailson Santana/Fluminense FC

Fortaleza derrota Fluminense e vira líder provisório do Brasileirão. Foto – Mailson Santana/Fluminense FC

Empate no Paraná

Na outra partida que abriu a terceira rodada, Coritiba e São Paulo empataram por 1 a 1 no Couto Pereira. O volante Bruno Gomes, aos 11 minutos da primeira etapa, colocou o Coxa à frente na capital paranaense, dando fim a um jejum de três partidas sem balançar as redes do time anfitrião, mas o atacante Marcos Paulo igualou, aos 35 do segundo tempo.

O Tricolor paulista foi aos mesmos quatro pontos de outros quatro times, na metade de cima da tabela. A equipe segue invicta sob comando de Dorival Júnior, após três partidas. O Coritiba – sem vencer a oito jogos – somou o primeiro ponto no Brasileirão, mas permanece no Z4 (quatro últimos colocados, que seriam rebaixados à Série B do ano que vem), em 18º lugar, podendo acabar a rodada na lanterna se América-MG e Bahia derrotarem Santos e Vasco, respectivamente.

Estado recorre de decisão judicial sobre concurso dos Bombeiros do Rio


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A Procuradoria Geral do Estado (PGE-RJ) recorreu neste sábado (29) da decisão da Justiça que cancelou a realização da prova do concurso para preenchimento de 800 vagas do Corpo de Bombeiros Militar, marcada para este domingo (30)”.

Em decisão desta sexta-feira, a Justiça do Rio de Janeiro determinou a suspensão da prova para preencher cargos de soldado no Corpo de Bombeiros Militar. A medida foi tomada porque o edital exigia que os candidatos entregassem exame de sorologia para HIV. A decisão também determina que o Estado do Rio de Janeiro e o Instituto Social de Desenvolvimento Universal (IUDS), organizador da seleção, reabram as inscrições do concurso.   

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A desembargadora Mônica Feldman de Mattos da 6ª  Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça, determinou a suspensão da prova deste domingo e a reabertura de inscrições pelo prazo mínimo de cinco dias, suprimindo-se a exigência de entrega do exame de sorologia para HIV. “A conduta da administração se revela desarrazoada e segregadora, em dissonância com o princípio da dignidade da pessoa humana, podendo eivar de nulidade o mencionado edital”, destaca a magistrada na decisão.  

Ação civil pública

As decisões foram originadas por ação civil pública que o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) ajuizou para que o Estado do Rio e o IUDS suspendessem a exigência do exame de sorologia para HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), contida no edital do concurso, e para que a prova fosse suspensa e as inscrições reabertas, uma vez que candidatos poderiam ter deixado de se inscrever devido ao critério. De acordo com o documento, a entrega do resultado do exame, como requisito obrigatório para a admissão dos candidatos aos cargos públicos em questão, trata-se de ato discriminatório e, portanto, inconstitucional.

Festival Corpo Negro celebra Dia Mundial da Dança no Rio de Janeiro


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O corpo em movimento. Com ou sem música. Solo ou em grupo. Expressão de sentimentos e ideias. Passos ensaiados ou livres. Esta é a arte da dança, celebrada no dia 29 de abril.

Para celebrar o Dia Mundial da Dança, ocorre no Rio de Janeiro o festival O Corpo Negro, um dos maiores festivais de dança do país, que começa neste sábado (28) com apresentações gratuitas de espetáculos criados e executados exclusivamente por artistas negros e negras.

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O evento, realizado pelo Sesc-RJ, chega a sua terceira edição com mais de 90 apresentações, shows, mostra audiovisual, oficinas e debates, ao longo de um mês.

Selecionados por meio de um edital público e inédito de dança para todo o Brasil, o projeto O Corpo Negro tem como objetivo fortalecer o segmento, gerar empregabilidade e proporcionar um espaço de visibilidade, além de ser o ponto de partida para maior protagonismo negro na cultura brasileira.

Rio de Janeiro (RJ) - Sesc RJ realiza “O Corpo Negro”, um dos maiores festivais de dança do país. Foto: Divulgação/SESC

O Corpo Negro é um dos maiores festivais de dança do país. Foto: Divulgação/SESC 

Importância

O analista técnico de Artes Cênicas do Sesc-RJ e um dos curadores do festival, André Gracindo, explica que a atual geração de dançarinos negros leva para os palcos as questões sociais do país.

“Temos artistas de uma geração com grande relevância para a cena como Elísio Pitta, Mestre Manoel Dionísio, Carmen Luz, bem como jovens e outros profissionais de todo o país que produzem arte para os nossos tempos, com trabalhos completamente sintonizados com as questões dos nossos dias”, explicou. 

O projeto contribui com as discussões sobre o racismo estrutural e a necessária implementação de ações coletivas de outros setores da sociedade, como a educação básica. “Desde a reelaboração dos livros de história que não podem mais representar como heróis os algozes de todas as etnias escravizadas; até as ações no campo simbólico, como a representação positiva da imagem da pessoa negra na cultura e na sociedade de forma geral”, acrescenta Gracindo.

Espetáculos

O festival irá percorrer até o dia 28 de maio sete cidades fluminenses: Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo, Nova Iguaçu, Nova Friburgo, Petrópolis e Volta Redonda . Todos os espetáculos de dança foram criados e serão executados por artistas negros.

Ao todo, 18 espaços desses municípios receberão as apresentações, entre unidades do Serviço Social do Comércio (Sesc), escolas, universidades e praças públicas. Além dos grupos de dança do Rio de Janeiro, há artistas de mais três estados brasileiros: Bahia, Ceará e São Paulo. A maioria dos espetáculos é inédita.

A abertura oficial do evento, no domingo (29), será às 19h, no Sesc Copacabana, com entrada franca. Com a presença de alguns artistas da programação, a noite terá a performance Ará Dudu, de Aline Valentim e Valéria Monã, em homenagem ao casal Carlos Negreiros, músico e líder da Orquestra Afro-Brasileira, morto no ano passado, e Isaura de Assis, uma das primeiras bailarinas e coreógrafas de dança afro do país, integrante do balé de Mercedes Baptista. A noite será encerrada com o show Mãe África de Awuré.

Destaques

Entre os destaques da programação está a performance de Elísio Pitta, uma homenagem a Ismael Ivo, bailarino e coreógrafo negro, morto em 2021, e que se notabilizou atuando por mais de três décadas na Europa; a estreia do espetáculo Iyamesan, de Luna Leal, numa performance só com mulheres; e Repertório nº 2, com Davi Pontes e Wallace Ferreira, que vem circulando mundo afora com esse trabalho.

O festival terá também uma mostra audiovisual, com dez filmes de longa e curta metragens, de seis estados brasileiros: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerias, Bahia, Alagoas e Ceará.

Durante a mostra será lançado o documentário Congar, que registrou a viagem do grupo de congada Reinado de Nossa Senhora do Jatobá, de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, para apresentação no festival do ano passado. Produzido pelo Sesc-RJ, o filme mostra diferentes gerações da irmandade, que levam consigo os seus ritos e celebram juntos a fé, a memória e o tempo.

Oficinas nas escolas

Também serão oferecidas oito oficinas de dança em espaços escolares. Destaque para as oficinas com o Mestre Manoel Dionísio, um dos maiores nomes do samba carioca, que vai ministrar aulas de mestre-sala e porta-bandeira nas unidades do Sesc em Ramos, Nova Iguaçu e Nova Friburgo. Também haverá cinco palestras com artistas e convidados, que vão discutir nas mesas pautas referentes à temática negra e a dança.

Encerramento

O cantor Xande de Pilares fechará o evento, no dia 28 de maio, às 19h, com um show na Praça Mauá, na zona portuária do Rio, e contará com as apresentações Sambando, do grupo Minas do Samba, e O corpo que habita o terno, com Jefferson Bilisco. Haverá, ainda, uma Feira de Empreendedores, que dará ênfase a empreendedores negros.

Gratuidade

Todos os eventos serão gratuitos, com a retirada antecipada dos ingressos nos espaços com lotação limitada e a programação completa pode ser vista no site do evento.

Dia Mundial da Dança

Instituído em 1982, o Dia Mundial da Dança é voltado para a promoção dessa arte em todo o mundo, além de conscientizar as pessoas sobre o valor da dança em todas as suas formas e compartilhar a alegria que há em movimentar o corpo. 

A data foi criada pelo Comitê de Dança do Instituto Internacional do Teatro da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e escolhida por ser o nascimento do bailarino e coreógrafo francês Jean-Georges Noverre. Autor do trabalho Lettres sur La Danse (Cartas sobre a Dança), o bailarino deixou seu legado sobre a expressividade dos movimentos nas apresentações de balé do século XVIII.

*Estagiário sob supervisão de Akemi Nitahara

Cerâmica de barro é tradição que cria laços no Brasil


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Três mulheres, três histórias, três heranças culturais. Dona Cadu, Dona Marciana e Dé Kariri Xocó não se conheciam. Uma baiana, outra amapaense e outra alagoana, elas saíram de suas casas para se encontrar esta semana no Sesc 24 de Maio, no centro de São Paulo. Ali, além de um bate-papo, foi exibido filme contando a história de cada uma. O que as uniu foi uma arte que aprenderam desde meninas e que esta semana elas vieram transmitir aos paulistanos: a ciência de transformar o barro em belas louças e cerâmicas.

“Estamos colegas agora”, contou a centenária dona Cadu. É com as mãos que elas vão moldando cada peça, como uma extensão de seus corpos. E é com as mãos que elas sustentam a casa: repetindo o que já fizeram suas antepassadas.

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“Para mim e para o meu povo Kariri Xocó, ele [esse trabalho em cerâmica] representa uma coisa muito boa. Minha mãe teve 18 filhos. Criou esses 18 filhos com o barro, trabalhando na cerâmica. Igualmente eu, que só tive quatro [filhos]. Também ajudei a minha mãe a criar meus irmãos com a cerâmica. Me sinto muito orgulhosa de eu ser uma louceira de cerâmica”, contou Dé, à reportagem da Agência Brasil.

Sentadas lado a lado, aguardando o momento em que iriam se apresentar ao público do Sesc 24 de Maio, as três louceiras contam que foram pelas mãos de outras mulheres que receberam essas bençãos. E é por suas mãos que agora elas estão repassando essa mesma tradição para outras gerações de mulheres. “Eu já passei [essa técnica] de geração para geração. Minha filha faz, minha neta faz, minha bisneta faz. Essa é uma cultura para nós do estado do Amapá”, disse Marciana.

Dona Cadu

Foi ainda menina que Ricardina Pereira da Silva, a dona Cadu, de 103 anos, que ainda carrega o sorriso e disposição de menina, aprendeu a arte e o ofício de fazer louças. Moradora de Coqueiros, em Maragogipe, na Bahia, ela é louceira há 93 anos. Mostrando o muque nos braços para falar sobre o trabalho doloroso e difícil dessa técnica, dona Cadu contou como iniciou os trabalhos em cerâmica.

“Desde a idade de 10 anos [faço as louças]. Aprendi com uma senhora do sertão porque nasci e me criei em São Félix. Essa senhora chegou do sertão, da roça. Era chão velho, mas era roça. E aí ela sabia fazer. Eu todo dia ia doida para aprender. Todo dia eu pegava um molhinho do barro e levava para a casa de meus pais para fazer brinquedos. Mas eu estava pensando que ela não estava vendo eu levar o barro. Mas ela estava vendo. E ela me perguntou: ‘você quer aprender?’. Eu disse que queria. Com 15 dias que eu estava trabalhando com ela, eu já estava fazendo melhor do que ela. E aí fui trabalhar na casa dos meus pais”, recordou ela.

São Paulo (SP), 25/04/2023 - A ceramista baiana dona Cadu, de 103 anos, participa do Encontro de Louceiras: modelando geracões, com mediação de Joana Côrtes, no SESC 24 de Maio. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Dona Cadu, de 103 anos, começou ainda menina no ofício. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Mas dona Cadu não conseguia viver só dessa arte. Teve que trabalhar duro – e muito – para conseguir sustentar a casa. “Eu trabalhava no barro, na roça e na pedreira, quebrando brita. E nisso me criei. Me casei com 22 anos e fui para Maragogipe. Saí de São Félix e fui para Maragogipe. E lá até hoje estou”, disse ela, reforçando que nunca parou de amassar o barro.

“Não, minha filha, eu tenho que trabalhar. Isso aqui significa muita coisa. É disso que eu vivo. Estou nessa idade, mas ainda trabalho para sobreviver. Um salário só não dá para a gente viver não. Meu marido faleceu e eu não recebo a pensão dele. Me aposentei pelo fundo rural, porque eu trabalhava na roça. Aí eu tenho que trabalhar. Tem dia que eu estou cansada e penso: ‘hoje eu não trabalho’. Mas às vezes eu penso: ‘eu trabalhando e fazendo uma ou duas peças já está bom’. Aí eu trabalho”, disse ela.

Dona Cadu acorda cedo todos os dias na palhoça de dormir. Mas essa palhoça não é onde ela fica o dia todo. Seu lugar mesmo é a palhoça de trabalhar, para onde segue todos os dias para produzir mais de 10 peças [por dia], que depois ela vende para restaurantes.

“Eu tenho a palhoça de dormir e a de trabalhar. Ela [a neta] me leva uma mingauzinho e eu tomo. Mais tarde, ela diz: ‘vó, vambora comer’. E eu digo: ‘eu não estou com fome ainda não’. E ela: ‘a senhora vai comer é agora para não ficar fraca’. Se ela deixar, eu fico lá até à noite. Mas ela não deixa”, contou.

Até bem pouco tempo, ela ainda se sentava ao chão para confeccionar as peças. Mas uma queda, que a fez quebrar o fêmur, a impediu de continuar dessa forma. “Eu sentava no chão. Esses tempos é que eu não estou podendo mais sentar no chão porque eu caí na porta e quebrei o fêmur. Aí eu sento num banco para poder arranjar um tostãozinho. Eu moro com a minha neta e eu digo para ela: ‘quero fazer meu bolinho de barro’. E ela: ‘vó, vai te aquietar. Como é que tu te senta no chão, vó?’. Aí eu digo: ‘eu não vou sentar no chão não. Me bota em um banquinho assim que eu trabalho’. E aí me fizeram um banquinho e uma mesinha e eu boto o seco em cima da mesa e fico rodando a tábua’’, afirmou ela.

Para conseguir o barro, a centenária mulher precisa comprá-lo “da mão dos que têm fazenda”. E paga caro por isso. “Uma caçamba custa R$ 2 mil”, avaliou ela. Mas antigamente, as coisas eram ainda mais difíceis. “De primeiro, o barro a gente pisava. Era pisado. Eu criei muque, olha [ela mostra os braços], de fazer força para pisar no barro e trabalhar. Mas depois a gente coloca na rua, os carros vão passando e vão pisando o barro. E aí eu já ponho pisado para dentro de casa. Isso já facilitou. Mas, de primeiro, era pisado com tronco de pau”, narrou.

Essa ciência do transformar o barro em cerâmica ela já transmitiu para muita gente. Continua ensinando isso até hoje. “O povo estranho que chega e me pede para eu ensinar, eu ensino. Não é fácil, não. Só vendo trabalhar para saber que não é fácil. Teve um senhor daqui [de São Paulo] que, na quinta-feira passada, esteve lá na minha casa [na Bahia]. Aí eu estava trabalhando e ele ficou doido: ‘Dona Cadu, a senhora me ensina?’. E eu respondi que sim. Ele disse que ia passar uma semana na minha casa para aprender a fazer”, ela gargalha.

Detentora de saberes e fazeres ancestrais, Dona Cadu recebeu dois títulos de Doutora Honoris Causa outorgados pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Se não garantiu seu sustento, o trabalho com as louças ao menos a fez viajar por vários cantos do Brasil. “Já viajei. Já fui até em Curitiba. O governador de lá me mandou buscar lá na minha casa para eu fazer uma exposição para ele ver. Eu fui e ele gostou tanto que eu fui para passar três dias e eu passei oito dias”, conta ela, gargalhando.

Dona Cadu também viaja pelo Brasil para mostrar não só suas louças, mas o seu samba. “Eu tenho um grupo de samba, que eu não sou boba. Eu era nova e gostava dessas folias. Até que, enfim, que a casa do samba, em Santo Amaro, me cadastrou no samba. Tenho meus instrumentos dentro de casa. Mas agora nunca mais sambei por causa da perna, que eu tenho medo. Já fui até Curitiba, no Paraná, com meu sambinha. Vamos nós duas sambar. Quem sabe, minha filha?”, ela  convida a repórter.

E é cantando e sob o batuque das palmas, que ela encerra o bate-papo com a reportagem. “Chegou dona Cadu, do queimador de louça. Quando o vento bate, balança a sua roupa. Balança sua roupa, balança sua roupa. Chegou dona Cadu, do queimador de louça’. E eu fico toda fofinha”, acrescentou ela.

Dé Kariri Xocó, 66 anos completados nesta semana, vive na Aldeia Kariri Xocó, em Porto Real do Colégio, em Alagoas. Assim como as companheiras que conheceu em São Paulo, ela começou a trabalhar a cerâmica com apenas sete anos. Os primeiros potes que fez logo que começou a amassar o barro foram “um pote e uma panela”. “Comecei a fazer pequeno. Depois já comecei a fazer grande, grande, grande. E agora faço de todo tamanho”, revelou.

São Paulo (SP), 25/04/2023 - A ceramista Dé Kariri Xocó, da aldeia Kariri Xocó em Alagoas, participa do Encontro de Louceiras: modelando geracões, com mediação de Joana Côrtes, no SESC 24 de Maio. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Dé Kariri Xocó, da aldeia Kariri Xocó em Alagoas,no Encontro de Louceiras. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

“Quem me ensinou a fazer foi minha avó. Tanto que até hoje eu continuo a fazer. E ensinei. Tenho duas irmãs, que já sabem fazer há tempos. E agora eu estou ensinando minha filha e duas netas. Elas vão para a escola e, quando chegam, elas dizem: ‘vovó Dé, eu quero fazer pote’. E eu digo: ‘então, venham para cá’. E ela vem, senta mais eu, eu dou o bolinho de barro a ela e ela começa a fazer uma coisinha. Eu estou esperando ela [a neta] e minha filha ficarem no meu lugar”, afirmou.

Os potes, conta Dé, são parte de sua vida. Tarefa que ela desempenha do nascer ao anoitecer. “Eu me levanto da cama, escovo o lombo e vou correndo para o barro e para os potes. Quando é a noite, estou alisando, raspando e movimentando o barro”.

Essa argila, diz Dé, não é só parte de sua vida ou seu sustento. Ela já está impregnada em seu corpo. “Quanto mais eu estou apegada ao barro, mais eu estou sentindo coragem no meu corpo. Estou sentada fazendo a minha louça, chega a hora de eu almoçar e minha nora me chama: ‘Dé, venha almoçar’ E eu respondo: ‘vou já, vou já mulher’. Mas eu gosto tanto, que me passa a vontade de comer e de almoçar. E aí, com o cachimbo na boca, fumando, isso é minha resistência. Eu sinto que ele me dá resistência”, explicou.

Conseguir o material para fazer as peças não é um problema em sua comunidade. “Na minha aldeia não é [difícil de conseguir o material]. Só que eles são muito profundos. Para a cerâmica do pote, para nós tirarmos ele [barro], temos que cavar três camadas. Na quarta [camada] que ele dá o positivo. Se eu tirar naquelas três camadas, quando eu vou fizer o pote, eu não levanto ele. Ele fica só querendo cair. Na quarta [camada] é que eu tiro ele e aí eu trago ele positivo. Assim é na panela também”, acentuou.

O difícil é arranjar comprador para as peças. “Na nossa aldeia está faltando. Não tem comprador para vir comprar direto”, disse.

Enquanto enfrenta esse problema de falta de comprador, Dé vai mantendo a tradição, que aprendeu de menina. “Nós não podemos parar. Não podemos acabar essa tradição. Não podemos parar porque essa é uma tradição de nós, índias”, externou.

Marciana

Marciana Nonata Dias tem 82 anos e vive no Quilombo Santa Luzia do Maruanum, em Macapá (AP). Sua história se assemelha a de muitas louceiras desse Brasil.

São Paulo (SP), 25/04/2023 - A ceramista dona Marciana, do quilombo Maruanum em Macapá, participa do Encontro de Louceiras: modelando geracões, com mediação de Joana Côrtes, no SESC 24 de Maio. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Dona Marciana, do quilombo Maruanum em Macapá, participa do Encontro de Louceiras. Foto – Rovena Rosa/Agência Brasil

“Comecei a trabalhar a argila com dez anos. Minhas tias todas faziam artesanato. Eu e minha prima pegávamos o barro delas e fazíamos [as peças] escondidas. Elas não gostavam [quando] a gente pegava o barro. Mas a gente tirava e fazia escondido. Depois de casada – casei com 22 anos – minha comadre me convidou para fazer artesanato com ela. Eu me dediquei para a casa dela e fazia artesanato com ela. E hoje estou passando isso de geração para geração”, disse.

No quilombo onde vive, o trabalho com o barro reúne toda a comunidade e funciona também como um ritual, uma devoção à Mãe do Barro, a guardiã do barreiro de onde se extrai a argila. “Hoje são 20 louceiras na comunidade quilombola. Os homens vão para dentro da mata para tirar os paus e cavar a argila. A gente vai para o lago. Chegando lá, a gente escolhe o lugar para tirar o barro, despede-se da Mãe do Barro e aí vamos tirar o barro. Precisa tirar quatro camadas de terra para chegar no barro. Eu mando que eles cavem bem no meio do buraco. Eles escavam. E quando puxam o ferro, já está no barro. Eles limpam o barro, nós forramos com o plástico e eles vão jogando aquela argila para nós, para cima. A gente pega aquela argila, vai amassando e colocando em uma saca de plástico. E aí cada uma de nós faz uma pecinha para oferecer para a Mãe do Barro”, recordou ela. Desse ritual só não podem participar as mulheres gestantes, grávidas e menstruadas.

Dessa tradição é que vem o sustento de sua comunidade. “Nossa tradição é importante para a nossa comunidade por causa da renda. Só a aposentadoria e a cultura da mandioca não estão dando”, confessa.

Diferentemente de Dona Cadu, Marciana não tem dificuldade para encontrar o barro. “O barro não é difícil para nós porque lá na nossa comunidade tem três quilombolas que têm terreno. O que é mais difícil para a gente é o caripé (árvore cuja casca é transformada em cinzas e depois utilizada para a confecção de cerâmica) e a jutaicica (resina do jutaí, usada para dar lustro [brilho] a louças de barro)”, contou ela.

As peças produzidas no quilombo são vendidas em feiras e em casas de artesanato. Ela também vende peças em sua casa ou por encomenda. “Não tendo outro serviço para fazer, eu faço três ou quatro peças por dia. Faço panela, xícara, caneca”, detalhou.

Sua rotina começa bem cedo, assim como a de dona Dé e dona Cadu. “Eu me levanto às 7h, tomo meu banho, tomo meu café e vou trabalhar. Tenho a minha casa de dormir e a minha casa para fazer as peças. Só saio de lá quando me chamam para almoçar”, disse ela. “Quando a minha neta me chama para eu comer, eu falo ‘deixa eu terminar, que depois eu vou almoçar’. E só quando eu termino é que eu vou almoçar. E logo quando termino de almoçar, já estou fazendo minhas peças de novo”, destacou.

Para dona Marciana, o trabalho com as louças é importante não só para o sustento de sua comunidade. “Essa cultura vai passando de geração em geração para a gente não deixar a nossa cultura morrer”, sintetizou.

Coincidente

Três mulheres. Três tradições. Três formas de amassar o barro. “É muito diferente [o trabalho das três]. O meu é feito o prato, rolado o barro para fazer o pavio para fazer as peças. Da minha tia véia [ela aponta para dona Cadu], ela faz assim [batendo a mão]”, exemplificou Marciana.

Dé, Cadu e Marciana podem ter suas diferenças nessa arte. Mas elas se parecem não só na forma do trabalho como também em como se relacionam com ele. “Quando estou longe do barro fico triste e adoeço”, finalizou Marciana.

Dona Cadu também sofreu ao ter que ficar longe do barro por algum tempo devido a uma queda em que quebrou o fêmur. “Eu levei dois anos e mês sem pegar em um bolo de barro. Como eu não fiquei, hein? Acho que fiquei mais doente porque eu estava sem trabalhar”, disse ela.

As louças feitas com barro são uma tradição para diversas mulheres e diversas comunidades e territórios do Brasil. Do norte ao sul do país, louceiras produziram e produzem panelas, caldeirões, pratos e outros utensílios. Esses objetos carregam em si as tradições e os costumes que passaram de mãos para mãos. Objetos que podem ser diferentes na forma e nas histórias que carregam, mas que criam laços em todo o Brasil. “Estamos muito unidas pelo barro”, finaliza Marciana.

Algemado, Thiago Brennand desembarca escoltado pela PF em São Paulo


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Agentes da Polícia Federal (PF) chegaram neste sábado (29) ao Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, com o empresário Thiago Brennand, acusado de diversos crimes contra mulheres. Ele estava foragido nos Emirados Árabes Unidos e foi extraditado após tratativas com o governo brasileiro.

Ele desceu algemado do avião e foi escoltado diretamente para a superintendência da PF na Zona Oeste de São Paulo, onde deve ficar detido hoje à noite. Pesam contra o empresário, que é herdeiro de uma família rica de Pernambuco, cinco mandados de prisão preventiva.

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Neste sábado, o chefe da Interpol em São Paulo, Ricardo Sancovich, disse em entrevista coletiva que o herdeiro dormirá na superintendência devido ao horário em que chegou ao Brasil, e que pela manhã ele deve ser submetido a exame de corpo de delito e audiência de custódia, antes de ser encaminhado a um centro de detenção provisória.

Acusações

Segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo, Thiago Brennand é réu em pelo menos 8 processos criminais, e teve decretada sua prisão preventiva em cinco deles. Além das agressões e estupros contra mulheres, o empresário ainda é investigado por agredir o filho e por possuir uma coleção de armas ilegais.

Os casos envolvendo Thiago Brennand ganharam notoriedade após a divulgação de imagens da câmera de segurança de uma academia em São Paulo em que ele é flagrado agredindo uma modelo. Em decorrência deste episódio, a Justiça paulista determinou a prisão dele.

O empresário chegou a ser preso em outubro, em Abu Dhabi, mas acabou solto após pagar fiança. Depois de tratativas do governo brasileiro, os Emirados Árabes Unidos concordaram em extraditar o empresário, após ele ter sido incluído na difusão vermelha da Interpol.

Brennand foi preso novamente em 17 de abril, após serviços de inteligência do país do Oriente Médio identificarem um plano em que ele pretendia fugir para a Rússia. Uma equipe composta por um delegado e dois agentes da PF foram aos Emirados Árabes Unidos para trazer o brasileiro. Um escrivão treinado em artes marciais também foi mobilizado, diante do histórico violento do preso.

A defesa de Brennand pleiteia na Justiça a revogação da prisão preventiva do empresário, alegando que ele pretende colaborar com as investigações. Além das agressões e estupros, ele deve responder por crimes como cárcere privado e lesão corporal, por ter obrigado uma mulher a tatuar seu nome. Ele alega inocência e se diz perseguido. 

Comércio de ouro: maioria do STF vota por suspender boa-fé presumida


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O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria hoje (29) por manter liminar (decisão provisória) do ministro Gilmar Mendes que suspendeu a chamada presunção da boa-fé do ouro, em que a legalidade do metal é presumida pelo comprador com base somente em informações fornecidas pelo vendedor.

Pelo voto da maioria, fica mantida também a determinação para que o governo federal adote em 90 dias um novo marco normativo para a fiscalização do comércio do ouro, “especialmente quanto à verificação da origem legal” do metal, diz a decisão.

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Mendes é relator de ao menos três ações sobre o assunto, abertas por PV, Rede Sustentabilidade e PSB, que foram abertas após a repercussão da crise humanitária provocada pela invasão de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami.

Nas ações, os partidos alegaram que a boa-fé do ouro, ao retirar a responsabilidade de comprador e vendedor de comprovarem a legalidade do metal, incentiva o comércio ilegal e a fiscalização, o que favorece a degradação ambiental e social dos locais de exploração.

Urgência

Gilmar Mendes concordou com os argumentos e justificou a urgência da liminar (decisão provisória) ante os danos ambientais e humanitários e o aumento da criminalidade generalizada provocados pelo garimpo ilegal.

“É preciso que esse consórcio espúrio, formado entre garimpo ilegal e organizações criminosas, seja o quanto antes paralisado. O provimento de medida cautelar, pelo Supremo Tribunal Federal, é o meio adequado e necessário para tanto”, escreveu o ministro.

Até o momento, a liminar do relator foi referendada pelos ministros Cármen Lúcia, Edson Fachin, Dias Toffoli, Rosa Weber e Alexandre de Moraes. Os demais ainda não votaram. O caso é julgado no plenário virtual, em os votos são depositados eletronicamente, sem deliberação presencial.

A sessão de julgamentos está prevista para durar até a próxima terça-feira (5). A decisão da maioria deve prevalecer caso não haja pedido de vista (mais tempo de análise) ou de destaque, que é a remessa do tema para análise presencial, com reinício da votação.

Após a decisão de Gilmar Mendes, o governo iniciou a redação de uma Medida Provisória para modificar o marco legal da exploração de ouro no país. O trabalho foi concluído nesta semana e a chamada MP do Ouro já foi assinada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino.

Passageira é retirada de voo após discussão; relatos citam racismo


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Uma mulher negra foi retirada por policiais federais de um voo da Gol Linhas Aéreas que seguiria de Salvador para o aeroporto de Congonhas na madrugada deste sábado (29). Em vídeos que viralizaram nas redes sociais, é possível observar que Samantha Vitena já estava dentro da aeronave, aguardando a decolagem, quando foi retirada em meio a uma discussão acerca do despacho de sua bagagem. Um dos policiais argumenta que a decisão foi tomada por determinação do comandante. 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por Elaine Hazin (@elainehazin)

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No Twitter, o Ministério das Mulheres condenou o caso. “O episódio contra Samantha Vitena em um voo de Salvador na madrugada deste sábado demonstra o racismo e a misoginia que atingem de forma estrutural as mulheres negras em nosso país”. No post seguinte, a pasta cita que a mulher foi retirada da aeronave cerca de uma hora depois que o problema da bagagem já havia sido resolvido, conforme relato da própria Samantha e de passageiros que testemunharam o ocorrido. 

“A cena é uma afronta à Samantha e a todas as mulheres negras. Pediremos providências à companhia aérea e à PF [Polícia Federal], que devem desculpas e explicações após a abordagem.” 

Em sua página no Instagram, a jornalista Elaine Hazin, que estava na mesma aeronave que Samantha, classifica o episódio como “um caso extremamente violento de racismo”. Segundo ela, os passageiros embarcaram no voo 1575 da Gol Linhas Aéreas com uma hora de atraso e a mulher não conseguia lugar para guardar a mochila, que continha um laptop. 

“Conseguimos um lugar para a mochila de Samantha e, nem mesmo assim, o voo decolaria. Mais uma hora de atraso, nenhuma satisfação da cia área, gente passando mal no avião e eis que três homens da Polícia Federal entram de forma extremamente truculenta no avião para levar a ‘ameaça’ do voo embora – a Samantha. Ela se defende, mas não reage. Alguns pedem pra ela não ir (na maioria mulheres).” 

“Esta história não termina aqui, queremos justiça e respeito para todos, queremos que a Gol, este comandante e a tripulação paguem por este crime e os policiais também respondam por tamanha violência”, concluiu a jornalista no post. 

Em nota, a Gol Linhas Aéreas informou que, durante o embarque do voo 1575 com destino ao aeroporto de Congonhas, havia uma grande quantidade de bagagens a serem acomodadas a bordo. “Muito clientes colaboraram despachando volumes gratuitamente. Mesmo com todas as alternativas apresentadas pela tripulação, uma cliente não aceitou a colocação da sua bagagem nos locais corretos e seguros destinados às malas e, por medida de segurança operacional, não pôde seguir no voo”.  

“Lamentamos os transtornos causados aos clientes, mas reforçamos que, por medidas de segurança, nosso valor número 1, as acomodações das bagagens devem seguir as regras e procedimentos estabelecidos, sem exceções. A companhia ressalta ainda que busca continuamente formas de evitar o ocorrido e oferecer a melhor experiência a quem escolhe voar com a Gol e segue apurando cuidadosamente os detalhes do caso.” 

MST anuncia realização da 4º Feira Nacional da Reforma Agrária


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O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realiza entre os dias 11 e 14 de maio a 4º edição da Feira Nacional da Reforma Agrária, no Parque Estadual da Água Branca, na Barra Funda, na capital paulista. Suspenso por cinco anos, o maior evento nacional de comercialização dos produtos da Reforma Agrária reúne 1,2 mil feirantes de 23 estados, com a oferta de alimentos saudáveis oriundos dos assentamentos e acampamentos do MST de todo o Brasil. A expectativa é trazer mais de 1,5 mil itens de produtos diversificados, dos mais de 1,2 mil município onde o movimento está organizado.

O membro da direção estadual do MST em São Paulo, Delwek Matheus, destacou que a feira enfoca a solidariedade e não está isolada no tempo, sendo reflexo do processo de construção histórica e do comprometimento da reforma agrária com a função social da terra e dos bens da natureza. “Vivemos esses últimos anos de retrocesso nas políticas publicas para o campo, que atingiu não só a reforma agrária, mas a agricultura familiar como um todo. Certamente isso é muito prejudicial para a questão da alimentação e para a questão da saúde e do meio ambiente”, disse.

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Matheus ressaltou que os objetivos básicos da feira são expor a importância da reforma agrária, da agricultura familiar, da produção de alimentos saudáveis, a partir de um outro paradigma de produção, que se preocupa com a questão humana, ambiental e principalmente da saúde e da qualidade dos alimentos.”Ela dialoga também com a questão de geração de trabalho e renda no campo e tem um compromisso muito forte com o meio ambiente, porque quando as famílias camponesas produzem têm o compromisso de cuidar dos bens da natureza”, disse.

Comidas típicas

A feira trará ainda a cultura alimentar de diversos estados do Brasil, com comidas típicas de 24 localidades, com 30 cozinhas que produzirão 90 pratos típicos. Além disso, o evento terá atividades culturais com a presença de 300 artistas representando a cultura do povo brasileiro, incluindo Zeca Baleiro, Gabi Amarantos, Jorge Aragão e a escola de samba Camisa Verde e Branco.

No último dia da feira, a organização fará uma doação de 25 toneladas de alimentos. “Será um ato de solidariedade para atender pessoas necessitadas da grande São Paulo. Não são produtos de sobra, de má qualidade, são produtos que traremos especialmente para doação e para mostrar o compromisso do povo do campo com as pessoas da cidade”, explicou Matheus.

Na mesma ocasião foi lançada a Cozinha Escola Pra Brilhar Dona Ilda Martins!, instalada no galpão do MST, na região central da capital paulista. O ministro do Ministério de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Paulo Teixeira, afirmou que o equipamento é importante dentro do contexto do desafio de tirar o Brasil do mapa da fome.

“Esse é o grande desafio do nosso país. O Brasil já saiu do mapa da fome em 2014, mas a partir de 2016 todas as políticas públicas retrocederam e o Brasil voltou, com 33 milhões de pessoas que precisam ser alimentados. Essa experiência da cozinha solidária precisa ser replicada por todo o Brasil”, ressaltou.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, reforçou a importância do movimento com a produção da agricultura familiar e de alimentos saudáveis e disse que o fortalecimento da diversidade de alimentos no país é positivo para a saúde, economia, além de o MST também ter um papel importante no debate e na identidade cultural do país. “Essa cozinha solidária vai ter um papel importante na formação de pessoas para que se multipliquem cozinhas como essa, opções de geração de renda como essa”.

TRF2 derruba decisão que suspendeu funcionamento do Telegram no Brasil


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O desembargador federal Flavio Oliveira Lucas, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), decidiu neste sábado (29) liberar o funcionamento do aplicativo de mensagens Telegram no Brasil. O aplicativo passou dois dias sem funcionamento.

Decisão atendeu recurso do Telegram, após a operação do aplicativo ter sido suspensa na última terça-feira (25) pelo juiz Wellington Lopes da Silva, da 1ª Vara Federal de Linhares, no Espírito Santo. A medida foi tomada após a empresa não fornecer informações solicitadas a respeito de grupos neonazistas atuantes na plataforma de mensagens.

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Na segunda instância, o desembargador Flavio Oliveira Lucas lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) ainda discute, em duas ações, sobre se é possível a suspensão de serviços eletrônicos de mensagens em todo território nacional pela Justiça. Em tais processos, já há dois votos no sentido de que a medida não seria constitucional, frisou ele.

Em sua decisão, o desembargador escreveu que “a medida de suspensão completa do serviço não guarda razoabilidade, considerando a afetação ampla em todo território nacional da liberdade de comunicação de milhares de pessoas absolutamente estranhas aos fatos sob apuração”.

Contudo, ele manteve a aplicação da multa diária de R$ 1 milhão ao Telegram pelo descumprimento da ordem para fornecer os dados sobre um grupo neonazista em atividade na plataforma. O magistrado considerou a sanção “a princípio adequada à envergadura e capacidade econômica da empresa”.

Ainda assim, o desembargador suspendeu a contagem do prazo da multa daqui em diante, ao menos até o julgamento de mérito do mandado de segurança impetrado pelo Telegram no TRF2.

Entenda

A controvérsia tem origem nas investigações sobre o ataque à Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti e no Centro Educacional Praia de Coqueiral, ambos na cidade de Aracruz (ES), em 25 de novembro, quando um adolescente de 16 anos invadiu os estabelecimentos e matou a tiros três professoras e uma aluna. Outras doze pessoas ficaram feridas.

Durante as investigações, a polícia aprendeu o celular do jovem e descobriu que a ação dele poderia ter sido induzida por grupos antissemitas no Telegram, em que havia, de acordo com os investigadores, “divulgação de tutoriais de assassinato, vídeos de mortes violentas, tutoriais de fabricação de artefatos explosivos, de promoção de ódio a minorias e ideais neonazistas”.

No dia 19 de abril, a Justiça Federal do Espírito Santo autorizou a quebra de sigilo telemático dos participantes desses grupos e ordenou o Telegram a fornecer os dados cadastrais dos usuários, com base no previsto pelo Marco Civil da Internet.

Foi determinado o repasse de informações como: nome, nome de usuários, CPF, foto do perfil, status do perfil, e-mail, endereço, dados bancários e do cartão de crédito cadastrados, contatos fornecidos para recuperação de conta, dispositivos vinculados (incluindo IMEI, se houver), número de confiança indicado para a autenticação de dois fatores e logs de criação (contendo IP, data, hora, fuso horário GMT/UTC e porta lógica) de todos os usuários dos grupos, principalmente de seus administradores.

No dia seguinte, a autoridade policial solicitou o cumprimento da medida, mas o aplicativo alegou, por algumas horas, questões técnicas que impediam o fornecimento dos dados, como a ausência, por exemplo, de URLs e links específicos sobre quais seriam de fato os alvos da decisão.

Por volta das 18h de 20 de abril, um desses grupos foi apagado da plataforma por seu administrador, o que impossibilitou definitivamente o cumprimento da decisão judicial, alegou o Telegram.

À Justiça, a empresa disse que “quando um grupo ou canal é deletado da plataforma do Telegram, todos os seus membros são removidos, tornando-se impossível o acesso às mensagens ou arquivos compartilhados no grupo que não existe mais, haja vista a estrutura e funcionamento da plataforma”.

Após analisar o caso, o juiz responsável decidiu então suspender o aplicativo em todo o país enquanto a empresa não fornecesse os dados solicitados e também aplicar a multa à plataforma, decisão agora suspensa parcialmente pela segunda instância da Justiça Federal.

MST defende que CPI é ataque ao movimento e ao governo


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O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) avalia que a Comissão Parlamentar de Inquérito aberta nesta quinta-feira (27) na Câmara dos Deputados é uma forma de atacar o movimento social e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“A gente está indo para a quinta CPI ao longo dessa caminhada do MST. Todas elas tiveram esse mesmo caráter, instrumento para tentar nos colocar em uma posição de encantonamento e evidenciar as posições políticas da extrema direita, dos ruralistas em relação a nós”, ressaltou em entrevista à Agência Brasil Ceres Hadich , que faz parte da direção nacional do MST.

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Para ela, um dos principais objetivos da comissão também é promover “um desgaste para o governo”. Desde 2003, o MST já foi investigado em quatro comissões de inquérito no Congresso Nacional, sendo a primeira a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Terra, que funcionou entre 2003 e 2005.

Brasília (DF) 11-04-2023 - A coordenadora do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Ceres Hadich durante coletiva para anunciar a 26ª Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária.
Foto: José Cruz/Agência Brasil

Coordenadora do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Ceres Hadich. Foto de arquivo – José Cruz/Agência Brasil

Ceres destaca que a CPI instalada nesta semana “tem um caráter extremamente político. É uma CPI que não tem razão de existir, porque não tem o fato determinado”, diz em referência ao requerimento de criação. No texto, o deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS) argumenta que há um “crescimento desordenado” de “invasões” a propriedades rurais produtivas no país.

No requerimento, o deputado afirma ainda que há “suposta influência por parte do governo federal na atuação deste grupo”, que teria propiciado o aumento do número de ações. Entretanto, o texto não traz qual seria o número de ocupações de terra promovidas pelo movimento nos últimos meses e cita apenas uma ação na Bahia.

A comissão de inquérito não deve, segundo Ceres, interromper as articulações e ações do MST. “O nosso foco é a luta pela terra, pela reforma agrária e por uma sociedade mais justa”, enfatiza. “Fortalecer a democracia, fortalecer o governo, a luta pela terra, a nossa autonomia, para a gente ajudar a dar as respostas para sociedade brasileira”, acrescenta.

Defesa do agronegócio

Para a cientista política Mayrá Lima, que pesquisou a atuação das CPIs que investigaram o MST, a criação de mais uma comissão é realmente uma tentativa de atacar o governo Lula e fortalecer a ideologia que sustenta o agronegócio no país. “Oposição não só, no caso, a movimentos de luta pela terra e territórios, mas também ao próprio governo federal”, ressalta.

A existência de movimentos sociais que propõe mais igualdade do uso da terra e outras formas de produção agrícola é um dos pontos, segundo a pesquisadora, que está sob ataque com a criação da comissão de inquérito. “A defesa do agronegócio como único modelo de desenvolvimento rural aceitável, de questionamento de qualquer projeto que seja diferente disso. E os movimentos sociais, não só o MST, a gente pode citar o MPA[Movimento dos Pequenos Agricultores], têm projetos divergentes”, diz.

A defesa desse modelo de produção e do direito absoluto à propriedade, que constitucionalmente está condicionada à função social, tem sido, de acordo com Mayrá, parte da essência de todas as CPIs que visaram o MST. “Os termos e as narrativas são os mesmos”, afirma a respeito das comissões. O movimento também foi alvo da CPMI “do MST” (2009-2011), da CPI Funai Incra (2015 –2016) e da Funai Incra 2 (2016 – 2017).

Além disso, a pesquisadora destaca que há uma disputa pelos incentivos públicos. “Boa parte dos produtores conseguem o seu sucesso agrícola, vamos dizer assim, porque há programas do Estado brasileiro, dos governos que vieram durante todos esses anos, que incentivaram esse modelo de produção”, diz. “No fundo dessa narrativa está a disputa pelo dinheiro público. O que o Estado vai financiar?”, questiona.