Lula vai ao Canadá para o G7, que tratará da segurança energética


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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa, no dia 17, da 51ª Cúpula do G7, grupo das sete nações mais industrializadas do mundo, no Canadá.  

O tema da segurança energética deve ser uma das tônicas dos debates entre os países membros com as nações convidadas, como é o caso do Brasil, segundo o Ministério das Relações Exteriores. 

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De acordo com o embaixador Mauricio Lyrio, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, a ênfase será em tecnologia e inovação, diversificação e viabilização de cadeias produtivas de minerais críticos, e infraestrutura e investimento. 

O diplomata avalia que a reunião será a chance para adiantar temas que farão parte da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém, no Pará, em novembro.

“A participação do presidente Lula será uma oportunidade para que o presidente possa falar também da organização da COP-30 e possa convidar outros países (para o evento)”, disse o diplomata. 

O embaixador ressaltou que o tema proposto para o evento tem relação direta com os assuntos a serem tratados na COP-30. 

Grupo ampliado

O Brasil participará da sessão ampliada da cúpula, com outros países convidados, como a África do Sul, Austrália, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Índia e México. A cúpula principal tem Estados Unidos, Itália, França, Reino Unido, Japão, Canadá e Alemanha.

O presidente Lula foi convidado para o evento, na quarta-feira (11) pelo primeiro-ministro canadense, Mark Carney. 

Há previsão de uma reunião bilateral de Lula com o anfitrião, no dia 17.

A viagem de Lula para o Canadá está prevista para esta segunda-feira (16).

Filme sobre influencer da periferia é consagrado em festival goiano


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No Ibura, bairro da periferia do Recife, Cris Martins e o marido, Albert Ventura, desempregados e em meio a pandemia de covid-19, vivem uma jornada heroica para dar conta da criação de três filhos, da gravidez de mais uma criança, a busca por uma laqueadura no SUS e a luta pela reconstrução, tijolo a tijolo, da casa da família.

Em sua luta para reconstruir a vida, garantir seus direitos reprodutivos e sustentar a família, Cris também se destaca atuando como micro-influenciadora digital.

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Essa história real emocionante, que tem sensibilizado plateias por onde passa, está documentada em Tijolo por Tijolo, filme dirigido por Victoria Alvares e Quentin Delaroche, consagrado neste domingo (15) com as principais premiações do 26º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), na Cidade de Goiás.

O documentário, que exibe grande qualidade cinematográfica ao mergulhar com profundidade na vida familiar de Cris, ao mesmo tempo arranca risadas e comove o público durante a sessão.

Essa potência levou Tijolo por Tijolo a vencer o grande troféu Cora Coralina de melhor filme do festival goiano, eleito pelo júri oficial, com prêmio de R$ 35 mil.

 


Brasília (DF), 15/06/2025 - Cena do filme Tijilo por Tijolo.
Frame Revoada Filmes/Divulgação

Brasília (DF), 15/06/2025 – Cena do filme Tijilo por Tijolo, vencedor do Fica 2025. Frame Revoada Filmes/Divulgação

A obra também faturou o prêmio de melhor direção, o troféu Imprensa, concedido por um júri de jornalistas especializados, e o troféu do júri jovem, obtendo, assim, todas as premiações possíveis.

O reconhecimento confirma o sucesso que o filme vem experimentando por onde tem circulado. Recentemente, foi destaque em premiações no festival curitibano Olhar de Cinema.

“Tijolo não é sobre um assunto só. A gente fala sobre justiça climática, sobre racismo ambiental, a gente fala sobre uma maternidade real, sobre direitos reprodutivos, a gente fala sobre afeto, sobre periferia, sobre paternidade preta, sobre redes sociais, sobre as big techs, essa pulverização dos trabalhos”, afirmou Victoria Alvares à Agência Brasil, logo após a premiação no festival goiano.

“São temáticas muito globais, o que faz com que um público muito diverso consiga se sentir tocado pelo filme de formas distintas”, destacou a diretora. “Então, é muito comum as pessoas saírem do filme dizendo assim: ‘Meu Deus, eu estou me sentindo prima desse pessoal'”, observou.

Nos cinemas

Victoria e Quentin assinam não apenas a direção, mas a fotografia, o som, a montagem e a produção do longa, uma equipe mínima. Eles passaram dois anos registrando a intimidade de Cris e de sua família, após construírem fortes relações com esses personagens reais. A expectativa, agora, está no lançamento do filme em salas comercias, viabilizada por meio de edital público. A data de estreia ainda não foi anunciada.

“Com a mudança de governo e o restabelecimento de políticas públicas de cultura, a gente conseguiu finalizar o filme e ganhamos também um edital para a distribuição do filme. Então, filme vai ser lançado em salas comerciais, o que é uma vitória muito grande, porque a gente sabe o quanto é difícil o cinema nacional ocupar esse espaço nas salas comerciais e ainda mais cinema documental”, celebrou Victoria.

Mostras competitivas

Considerado o maior evento audiovisual com temática ambiental da América Latina, o Fica distribuiu, ao todo, cerca de R$ 220 mil em prêmios para quatro mostras competitivas.

Entre os filmes goianos, o documentário Entre as Cinzas, que mostra brigadistas atuando contra incêndios florestais criminosos, levou o prêmio de melhor filme goiano eleito pelo júri.

O prêmio de melhor filme de curta e média metragens ficou com a animação Marés da Noite.

O júri oficial ainda concedeu menções honrosas aos filmes Nós vivemos aqui e Mãos à terra.

 

>> Confira a seguir todos os premiados da 26ª edição do Fica:

 

Mostra Internacional Washington Novaes

Prêmio Cora Coralina – melhor longa-metragem: Tijolo por Tijolo

Prêmio Carmo Bernardes – melhor direção: Tijolo por Tijolo

Prêmio Acari Passos – melhor curta ou média-metragem: Marés da Noite

Prêmio João Bennio – melhor filme goiano: Entre as Cinzas

Menções Honrosas do Júri Oficial: Nós Vivemos Aqui e Mãos à Terra

Prêmio José Petrillo – Júri da Imprensa: Tijolo por Tijolo

Prêmio Jesco Von Puttkamer – Júri Jovem: Tijolo por Tijolo

Prêmio Luiz Gonzaga Soares – Júri Popular: Encontro das Águas

Prêmio Fiocruz: Mãos à Terra

 

Mostra do Cinema Goiano

Melhor filme de longa metragem: Mambembe 

Melhor filme de curta metragem: Entressonho

Melhor direção de longa metragem: Fabio Meira, por Mambembe 

Melhor direção de curta metragem: Yorrana Maia, por Fidèle 

Melhor direção de fotografia: Larry Machado, por A Mulher Esqueleto

Melhor roteiro: Yorrana Maia, por Fidèle 

Melhor montagem: Afonso Uchoa, Fabio Meira e Juliano Castro, por Mambembe 

Melhor personagem: Francisca Americo dos Reis, por Planta de Raiz Profunda 

Melhor som: Theo Farah e Bruno Fiorezi, por Goiânia Rock City

Melhor trilha musical: Goiânia Rock City

Melhor direção de arte: Paulo César Alves, por A Mulher Esqueleto

Menção Honrosa: Jamming – O ano em que Junior Marvin morou em Goiânia

 

Mostra do Cinema Indígena e Povos Tradicionais

Melhor filme de Longa-metragem: Originárias

Melhor filme de curta ou média-metragem: Sukande Kasáká / Terra Doente

Menção Honrosa: ADOBE: Habilidades tradicionais da construção Kalunga

 

Mostra Becos da Minha Terra (filmes produzidos na Cidade de Goiás)

Melhor filme: Atitudinal

Melhor direção: Carlos Cipriano, por Para Carlos

Melhor roteiro: Jadson Borges, por Lockdown

Melhor montagem: Helena Caetano, por Sol Noturno

Melhor som: Brisa Castro, por Tom de Ameaça

 

*A equipe de reportagem da Agência Brasil viajou a convite da organização do 26º Fica

Manifestantes fazem ato pró-Gaza em São Paulo


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Milhares de pessoas participam na tarde deste domingo (15), na capital paulista, de marcha em apoio ao povo palestino na Faixa de Gaza, que enfrenta crise humanitária diante dos ataques militares de Israel. A mobilização tem o apoio de organizações de mobilização popular, sindicatos e políticos de esquerda.

Na convocação, os organizadores informaram que o ato faz parte da “Marcha Global para Gaza”, iniciativa internacional mobilizada por movimentos populares, organizações sociais, coletivos e ativistas de direitos humanos.

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No ato, parlamentares e ativistas defenderam um cessar-fogo na região, fim do conflito e que o governo brasileiro rompa as relações comerciais com o governo de Benjamin Netanyahu.

A ativista Soraya Misleh, de origem palestina, participa das mobilizações contra o conflito desde os primeiros atos e considerou a manifestação de hoje histórica, de construção mais ampla e unindo a comunidade árabe palestina no Brasil, partidos e movimentos. 

“As vozes palestinas e o apelo do povo palestino pedem por isolamento internacional aos moldes do que foi feito em relação ao apartheid na África do Sul nos anos 90. Neste momento, nós estamos vivendo um holocausto na Palestina, em Gaza, e um bloqueio muito criminoso em que Israel busca a solução final na contínua Nakba, catástrofe que já dura mais de 77 anos”, disse a ativista.

O pesquisador criativo Cauê Teles, e o filho Guido, de 8 anos, acompanharam o ato. “A gente está vindo aqui para poder demandar que o nosso governo rompa as relações com Israel, como vários outros governos já estão fazendo, como a Colômbia, porque a gente não pode continuar apoiando o Estado colonial, que está fazendo um genocídio”, disse o pesquisador. Já o pequeno Guido acha importante protestar, pois crianças têm sido as principais vítimas das bombas israelenses.

A professora Raquel, que preferiu não informar o sobrenome para não sofrer retaliação, disse que o ato vem para apoiar o povo palestino, “enquanto Israel amplia o conflito e agora bombardeia o Irã”. “Precisamos fazer alguma coisa”, conclama.

Para o administrador André Luiz, chegou a hora de aderir “à necessidade do governo brasileiro romper relações diplomáticas e comerciais com o Estado de Israel, porque realmente ultrapassou o limite”.

O grupo caminhou, de forma pacífica, da Praça Roosevelt, no centro da capital, em direção à Praça Cinquentenário de Israel, em Higienópolis. A pedido da polícia, a manifestação se encerrou na Praça Charles Miller. Não foi informado o motivo da solicitação.

A manifestação ainda presta apoio à caravana que cruza o Egito em direção a Rafah, cidade palestina situada no sul da Faixa de Gaza.

Há marchas em apoio ao povo palestino em outras cidades brasileiras, como Belo Horizonte, Boa Vista, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Rio Grande (RS).

Ataques aéreos e disparos israelenses mataram pelo menos 45 palestinos na Faixa de Gaza neste sábado (14), a maioria perto de um ponto de distribuição de ajuda, segundo informações da Agência Reuters. 

Com origem europeia, festas juninas misturam devoção, comidas e danças


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As tradicionais festas juninas brasileiras nasceram na Europa católica e foram introduzidas no país pelos portugueses durante o período colonial, celebrando as solenidades católicas de Santo Antônio, São João Batista, São Pedro e São Paulo. Com fogueira, quermesse e quadrilha, as festas trazem afetividade, ensinamentos religiosos e narrativas que atravessam séculos de história popular.

Segundo a doutora em Teologia e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Ana Beatriz Dias Pinto, no Brasil, mais do que datas litúrgicas, são experiências coletivas que misturam devoção, comida, dança e memória afetiva. 

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“Cada arraial, cada fogueira acesa e cada simpatia feita com fé expressam uma catequese viva, transmitida não por livros, mas por gestos, sabores e ritmos que fazem universo de sentidos para a religiosidade popular e dizem muito sobre nossa cultura”, diz.

A professora, explica que a tradição da fogueira vem de um acordo entre Isabel e Maria, primas grávidas. Elas combinaram que, quando João nascesse, Isabel acenderia uma fogueira para avisar Maria. “Assim surgiu o sinal, que se acende até hoje em cada quermesse do Brasil para celebrar o nascimento do único santo festejado no dia em que nasceu, e não no dia da morte”.

A fogueira de São João representa a luz da vida para os momentos de escuridão, a expectativa de exteriorizar e queimar pelo fogo tudo aquilo que tira a alegria da vida, explica  professora. Há ainda o ato de pular a fogueira, que representa purificação, renascimento, desejo realizado.

“No Brasil, isso se popularizou ao ponto de virar a cantiga Pula a fogueira, ioiô. Esse gesto é arquétipo de purificação, de queimar energias e experiências negativas, reduzindo a cinzas o que não é bom para a vida”, .

Outro símbolo tradicional das festas juninas, o arraial é a recriação de uma aldeia temporária e sagrada, onde há sempre uma igreja, um padre, um casamento e padrinhos.

“É uma miniatura da própria organização social católica, mas numa versão colorida e brincante, homenageando o povo caipira, o povo que oferece aos centros urbanos o alimento”.

Quadrilha, pau de sebo e quermesse

De acordo com Ana Beatriz, a origem da quadrilha, uma dança de casais que se abrasileirou nos nossos arraiais, tem origem nas danças de salão francesas. Aos poucos se transformou em uma dança coreografada no Brasil.

O pau de sebo também faz parta da folia junina. “Enquanto alguns o veem simbolismo fálico, como pecado, algo do demônio, outros veem só como diversão. O fato é que pela cultura popular, o pau de sebo é tão somente uma brincadeira de festa junina. Em sua ponta, sempre há uma imagem de Santo Antônio ou um prêmio cobiçado. Quem consegue apanhar é o vencedor”.

O termo quermesse para denominar a festa da igreja vem do flamengo kerkmisse, palavra que nasceu da língua falada na região da Flandres (atualmente parte da Bélgica). A festa nasceu como evento beneficente e, com o tempo, incorporou forró, barracas de jogo, bingo e cachorro-quente aqui no Brasil.

“No fundo, continua sendo celebração comunitária, de agradecimento pelas colheitas e para celebrar que o povo quer missa, mas também quer festa, união, convivência e amizade. Valores presentes à formação social brasileira no campo e na cidade”, explica Ana Beatriz.

Comidas e bebidas

As festas juninas no Brasil coincidem com a colheita de alguns alimentos, como o milho, amendoim, pinhão, uva. Desses produtos resultam pratos como a canjica, a pamonha, o bolo de milho, o curau, o pé-de-moleque, pinhão cozido ou assado. As bebidas, como o quentão e o vinho quente, que têm origem portuguesa, surgiram como função social de aquecer o corpo e a alma.

“Todos representam uma forma de Ação de Graças a um plantio bem-sucedido, em forma de gratidão disfarçada de quitute”, explica a professora de teologia.

Papel das festas

Para Ana Beatriz, as festas juninas são ainda mais importantes no período atual, com a existência da comunicação digital e das redes sociais, como ritual coletivo, memória afetiva e expressão de uma espiritualidade popular legítima falando de pertencimento, alegria e esperança por meio das danças, das brincadeiras e da celebração da colheita dos alimentos típicos do inverno.

“As festas juninas são expressão simbólica do imaginário devocional e cultural brasileiro, com direito a muitas orações, simpatias e à consciência simbólica de que o ano chegou à sua metade, convidando cada um de nós a olhar para trás, agradecer, e reacender a fé para o que ainda está por vir”.

Catadores no Rio lidam com informalidade e más condições de trabalho


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Luiz Carlos Santiago, de 70 anos, começou a trabalhar com coleta de material reciclável em 2000. No início, buscava material de forma autônoma no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro, até que, em 2002, tornou-se um dos fundadores da Cooperativa dos Trabalhadores do Complexo de Bonsucesso (Cootrabom), iniciativa associada à Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).


Rio de Janeiro (RJ), 12/06/2025 - Luiz Carlos Santiago, um dos fundadores da Cooperativa dos Trabalhadores do Complexo de Bonsucesso (Cootrabom). Foto: Cootrabom/Divulgação

Luiz Carlos Santiago, um dos fundadores da Cooperativa dos Trabalhadores do Complexo de Bonsucesso (Cootrabom). Foto: Cootrabom/Divulgação

Hoje, além de recolher material em empresas públicas e privadas, a cooperativa recebe recicláveis da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) em seu galpão no bairro de Cascadura. É neste local que realizam a separação e comercialização do material, conseguindo arrecadar cerca de R$ 1,6 mil por mês para cada associado da Cootrabom. 

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“Não considero suficiente o que conseguimos ratear, tendo em vista o trabalho que prestamos à sociedade. Às vezes, conseguimos um pouco mais pela prestação de serviços para empresas”, diz Santiago à Agência Brasil. 

O fundador da Cootrabom também critica a falta de espaços cedidos pelo poder público para armazenar o material coletado e os casos de discriminação. 

“Muitas situações de preconceito acontecem por causa do nosso trabalho, que é confundido com o trabalho da população em situação de rua”, explica.

O autor do livro A vida com direitos: direito do trabalho inclusivo e trabalho decente para catadores de resíduos, Dieric Guimarães Cavalcante, pontua que os catadores são responsáveis pela coleta seletiva, triagem, classificação, processamento e comercialização dos resíduos reutilizáveis e recicláveis. 

“Essa atividade só foi reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego em 2002, ocasião em que foi inserida na Classificação Brasileira de Ocupações, embora os estudos sobre o tema apontem que o trabalho de catador acompanha o processo de urbanização do Brasil”, explica.

Conforme o Guia Brasileiro de Ocupações do Ministério do Trabalho, o Brasil conta com 3.848 catadores de material reciclável registrados. Os homens representam a maioria (70,97%), enquanto as mulheres correspondem a 29,03%. 

A jornada dessas pessoas, relata Cavalcante, depende diretamente do regime de trabalho, que pode ser classificado de duas formas: catadores não cooperados ou autônomos, que atuam nas ruas ou em lixões, e os catadores cooperados, que trabalham em cooperativas ou associações.

“Se autônomos, as jornadas de trabalho diárias podem passar de 16 horas, sem qualquer intervalo ou de menos de 30 minutos. Já quando inseridos em cooperativas ou associações, a jornada, em regra, obedece ao limite de oito horas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e é garantido intervalo de uma hora”, explica Cavalcante, que também é mestre em sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF). 

“O trabalho dos catadores, quando exercido no contexto das cooperativas e das associações, tende a ser mais protegido e, consequentemente, mais digno”, continua. 

Organizados em associações ou cooperativas, os trabalhadores tendem a ter condições melhores de trabalho, graças ao apoio de governos locais, doações de equipamentos e financiamento para treinamentos, apesar de muitas associações lutarem para sobreviver em razão da falta de reconhecimento formal e padrões de trabalho decentes, como descreve o livro A vida com direitos: direito do trabalho inclusivo e trabalho decente para catadores de resíduos.


Rio de Janeiro (RJ), 12/06/2025 - Integrantes da Cooperativa dos Trabalhadores do Complexo de Bonsucesso (Cootrabom). Foto: Cootrabom/Divulgação

Integrantes da Cooperativa dos Trabalhadores do Complexo de Bonsucesso (Cootrabom). Foto: Cootrabom/Divulgação

Cooperativa de mulheres 

Também na Zona Norte do Rio de Janeiro, desde 2005, a Cooperativa de Trabalho CoopQuitungo realiza a coleta de material reciclável na comunidade do Quitungo, em Brás de Pina. Formada apenas por mulheres e com 14 famílias associadas, a iniciativa foi fundada por Maria do Carmo Barbosa de Oliveira, de 70 anos. 

“A cooperativa foi criada para atender a comunidade, porque as pessoas não tinham condições de ir para o mercado de trabalho”, explica Oliveira. 

Como a Cootrabom, a CoopQuitungo realiza coleta de materiais recicláveis em empresas públicas e privadas, além de condomínios, apesar de não terem um espaço próprio para armazenar o material recolhido. 

“Na maioria das vezes, nós não temos tanta liberdade. Mesmo após esses anos todos, trabalhamos em um espaço emprestado por uma igreja católica. Não temos estrutura para muita coisa”, lamenta a fundadora da cooperativa.

Quando surgiu, a cooperativa contava com um grupo de 30 mulheres, mas esse número foi reduzido com o passar do tempo pela falta de infraestrutura, que também afetou a eficiência do trabalho. 

“Começamos com muita deficiência. Não tínhamos carro, trabalhávamos puxando o burrinho sem rabo (carrinho de carga) na rua cheio. Isso era muito difícil para nós, mulheres, mas com o decorrer do tempo ganhamos um caminhão, o que já facilitou. Foi quando tivemos a necessidade de colocar os homens para dirigir”, conta.  


Rio de Janeiro (RJ), 12/06/2025 - Maria do Carmo Barbosa de Oliveira, fundadora da Cooperativa de Trabalho CoopQuitungo. Foto: CoopQuitungo/Divulgação

Maria do Carmo Barbosa de Oliveira, fundadora da Cooperativa de Trabalho CoopQuitungo. Foto: CoopQuitungo/Divulgação

Mesmo com a recente inclusão de homens na cooperativa, Maria do Carmo reforça que são apenas as mulheres que saem para coletar material, com apoio do Decreto nº 5.940, de 2006, que institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal.

Apesar da chegada de um caminhão para auxiliar na coleta, a fundadora destaca que os desafios ainda são muitos. O principal deles, ela reforça, é a falta de um galpão para a cooperativa e a necessidade de deixar o material na calçada muitas vezes. 

“Somos procuradas para tanta coisa, para palestra, para limpeza, para ações na praia. A CoopQuitungo faz de tudo um pouco, então por que não somos vistas pela necessidade que estamos pleiteando já há tanto tempo?”, questiona. 

Valorização da categoria

O professor Ronei de Almeida, do Departamento de Engenharia Sanitária e Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), observa que os principais desafios enfrentados por catadores de materiais recicláveis estão relacionados à remuneração e às condições adequadas de trabalho. 

“Entre os principais problemas, destaco a informalidade e a consequente ausência de direitos trabalhistas. A maioria desses trabalhadores opera na informalidade, o que dificulta o acesso a benefícios básicos, como seguro-desemprego e previdência social. Soma-se a isso as condições precárias de trabalho, marcadas pela falta de infraestrutura e de equipamentos adequados. Esse cenário impacta negativamente a saúde física e mental dos catadores, comprometendo sua qualidade de vida e dignidade profissional”.

Embora a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabeleça prioridade para parcerias com cooperativas de catadores de materiais recicláveis, em especial na implementação, estruturação e operacionalização do sistema de logística reversa, Almeida destaca que o caminho mais eficaz para a valorização dessa categoria é a formalização do trabalho, por meio da estruturação de associações e cooperativas. 

“Essa medida permite retirar o trabalhador individual da informalidade e da situação de vulnerabilidade social em que muitos se encontram no estado do Rio de Janeiro. Além disso, é fundamental investir na infraestrutura das cooperativas, ampliar o parque de reciclagem e capacitar os profissionais, promovendo qualificação técnica e organizacional”, avalia. “Outro aspecto que destacaria é a remuneração direta, por parte dos municípios, às cooperativas e associações, reconhecendo o papel estratégico que essas organizações desempenham no gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos”.

Comlurb

Questionada sobre as ações para catadores de material reciclável no Rio de Janeiro, a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) informou que promove o serviço de coleta seletiva, atendendo atualmente 117 bairros da cidade. De acordo com a companhia, todo o material é entregue gratuitamente a 30 cooperativas de catadores, que fazem a separação e comercializam os produtos. 

“O lixo reciclável garante assim trabalho e renda aos cooperativados, beneficiando cerca de 450 famílias. O recolhimento porta a porta é feito uma vez por semana, em dias alternados aos da coleta domiciliar. Atualmente, a Comlurb coleta cerca de 1.300 toneladas de materiais recicláveis por mês, considerando tanto a coleta feita pela frota própria quanto o volume recolhido pelos recicladores autônomos, que reportam mensalmente a quantidade coletada”, afirmou em nota. 

 

*Estagiária sob supervisão de Gilberto Costa

Embalado, Brasil faz 3 a 0 na invicta Eslovênia na Liga das Nações


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Em processo de renovação, a seleção brasileira masculina de vôlei, número 7 do mundo, cravou neste domingo (15) uma sólida vitória (3 sets a 0) sobre a Eslovênia, terceira no ranking mundial e até então invicta na Liga das Nações. Com uma atuação impecável no último confronto no Ginásio do Maracanãzino, no Rio de Janeiro, o Brasil encerra a primeira semana do torneio na terceira posição.

O país tem agora nove pontos na classificação geral – três vitórias (Irã, Ucrânia e Eslovênia) e uma derrota (Cuba) -, mesmo total do Japão (2º), à frente da seleção na tabela pelo critério de desempate por saldo de sets. Número 1 do mundo e ainda invicta no torneio, a Polônia lidera com 12 pontos. A seleção brasileira descansa a próxima semana e volta a competir de 25 a 29 de junho, em Chicago (Estados Unidos) contra mais quatro adversários: Canadá, China, Itália e Polônia.

Diferentemente da sofrida vitória de virada contra a Ucrânia no sábado (14) no tie-break, a equipe brasileira esbanjou concentração em quadra desde o início da partida. O time escalado pelo técnico Bernardinho foi o mesmo que virou o placar contra os ucranianos no sábado (14). Confiantes, Maique (líbero), Alan (oposto), Lucas Bergmann e Honorato (ambos ponteiros), Judson e Flávio/capitão (centrais) e Cachopa (levantador) – debutando como titular da amarelinha em competição internacional – ganharam com tranquilidade o primeiro set por 25/19.

A segunda parcial foi a mais equilibrada. Mesmo com maior volume de jogo, boa recepção de Maique e variedade na distribuição de Cachopa, a Eslovênia esboçou uma reação, sacando mais forte e reforçando o bloqueio. Abriram vantagem no meio do set, em 17/16 e tiveram a chance do empate liderando o placar por 24/21. Quando o set parecia definido a favor dos europeus, a resiliência da amarelinha fez a diferença. Honorato diminuiu a desvantagem para 24 a 22 e, na sequência, Darlan entrou em quadra para acertar um ace de saque, deixando o Brasil a um ponto do empate. Honorato anotou mais um e igualou o placar e daí em diante os times se revezaram na dianteira, até o bloqueio monstruoso de Judson que encerrou o embate por 29/27 a favor dos brasileiros.

Com moral alto, a seleção sobrou em quadra na terceira parcial, principalmente nos contra-ataques. Um dos destaques foi Lukas Bergmann,com uma sequência de acertos no bloqueio , ataque e no saque, com direito a ace que colocou o Brasil em vantagem de 16/10. Diante de uma torcida da torcida brasileira estasiada, a seleção fechou a última parcial em 25/1, selando a vitória com autoridade por 3 sets a 0

Pelo segundo jogo consecutivo, o maior Alan foi o maior pontuador, com 13 pontos (12 de ataque e um de bloqueio), mas hoje dividiu o protagonismo com Honorato (11 de ataque e dois de bloqueio) e Lukas Bergmann (8 de aquaque, 3 de bloqueio e 2 aces), que também anotaram 13 pontos para o Brasil.

Após a vitória, Alan avaliou o desempenho da seleção contra os eslovenos.

“Depois de fazer dois tie-breaks de 3 sets a 2 [contra Cuba e Ucrânia] e conseguir 3 a 0 contra a Eslovênia, que é uma equipe muito forte, isso dá mais confiança ainda para o time. Hoje a gente entrou, conseguiu imprimir nosso ritmo, no segundo set a gente estava perdendo, mexemos ali, Darlan entrou e fez um bom saque, a gente conseguiu recuperar e ganhar. Isto mostra total força da nossa equipe. É só daí para mais, a gente vai evoluir bastante na Liga, e eu espero que a gente lá no pódio, conseguindo levantar a medalhinha”, projetou o oposto, em entrevista à SporTV, emissora oficial da competição.

Formato da competição

A competição reúne as 18 melhores seleções do mundo na fase preliminar, com 15 rodadas. As equipes constam do ranking da Federação Internacional de Voleibol (FIVB). Além de atuar em casa, a seleção jogará nos Estados Unidos e no Japão.

Apenas as oito primeiras colocadas na fase preliminar, avançarão às quartas de final (eliminatória). Vale destacar que a China tem vaga assegurada no mata-mata da LNV, por sediar a fase final da competição, entre 30 de julho e 3 de agosto.

Próximos jogos do Brasil na Ligas das Nações

25 de junho (quarta) – Canadá x Brasil – 18h – Chicago, Estados Unidos

26 de junho (quinta) – Brasil x República Popular da China – 18h – Chicago, Estados Unidos

28 de junho (sábado) – Brasil x Itália – 18h – Chicago, EUA

29 de junho (domingo) – Brasil x Polônia – 18h – Chicago, EUA

16 de julho (quarta) – Argentina x Brasil – 00h – Chiba, Japão

18 de julho (sexta) – Brasil x Japão – 7h20 – Chiba, Japão

19 de julho (sábado) – Turquia x Brasil – 3h30 – Chiba, Japão

20 de julho (domingo) – Alemanha x Brasil – 2h30 – Chiba, Japão   

Prédios com vidraças nas cidades ameaçam aves, aponta pesquisa

Um estudo publicado nesta semana no periódico Ecology mostrou que 4.103 aves colidiram com janelas de vidro em um período de sete décadas em 11 países das Américas Central e do Sul.

Segundo a pesquisa, coordenada por dois pesquisadores brasileiros e por um cientista da Universidade de Helsinque (Finlândia), observou que mais de 500 espécies sofreram acidentes com essas estruturas, algumas ameaçadas de extinção, entre 1946 e 2020

O levantamento mostrou que 2.537 aves morreram imediatamente após as colisões, e 1.515 foram encontradas vivas e encaminhadas a centros de reabilitação. As épocas em que ocorreram os acidentes provavelmente coincidem com períodos de migração e reprodução das espécies, de acordo com o estudo.

Apenas no Brasil, foram analisados os registros de 1.452 incidentes, incluindo indivíduos de espécies ameaçadas de extinção, como gavião-pombo-pequeno (Buteogallus lacernulatus), cigarrinha-do-sul (Sporophila falcirostris) e saíra-pintor (Tangara fastuosa), endêmicas da Mata Atlântica.

A pesquisa foi liderada por Augusto João Piratelli, da Universidade Federal de São Carlos, Bianca Ribeiro, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e por Ian MacGregor-Fors (Universidade de Helsinki, Finlândia). Também colaboraram com o estudo mais de 100 pesquisadores, incluindo vários brasileiros.

Pesquisadora do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), Flávia Guimarães Chaves, foi uma das colaboradoras do estudo. Segundo ela, o levantamento mostra que janelas e outras estruturas urbanas de vidro ameaçam as aves, já que elas não enxergam essa barreira.

“Na cidade de São Paulo, foram 629 colisões de aves. Não havia muita diferença se o vidro dessas residências ou prédios era translúcido ou reflexivo”, explica a pesquisadora.

De acordo com a pesquisadora, o estudo poderá subsidiar políticas públicas, normas de construção e campanhas de conscientização voltadas à redução das colisões com vidros, um passo importante para tornar as cidades mais amigáveis à biodiversidade.

“Um passo importante para tornar as cidades mais amigáveis [para as aves] são ações simples como a aplicação de adesivos nos vidros, como bolinhas numa distância entre dez e 15 centímetros, de forma simétrica, que fazem com que as aves possam enxergar esses vidros. Outra possibilidade é utilizar cortinas antirreflexo e persianas nas janelas. No período da construção ou reforma, pode-se optar por vidros que sejam serigrafados, que possuem faixa UV na sua composição e são enxergadas pelas aves”.

“É preciso ir além do cinema indígena etnográfico”, dizem cineastas


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O desenvolvimento do cinema indígena e sua interface com o audiovisual produzido por não indígenas foi tema de debates entre cineastas que participam do 26º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), na Cidade de Goiás, que termina neste domingo (16).

O Fica é considerado o maior evento audiovisual com temática ambiental da América Latina.

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Presente ao encontro, Takumã Kuikuro (foto), premiado cineasta brasileiro oriundo do Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, aponta duas dimensões do trabalho que ele verifica com mais recorrência entre seus pares indígenas, inclusive os dele próprio.

“Tem duas formas de fazer cinema nas aldeias. Uma é documentar, registrar o conhecimento [oral] que vai ficar para sempre circulando para o povo nas aldeias. O outro jeito de produzir é criar uma narrativa própria sobre a realidade, traduzir para o português para que o não indígena entenda nossa realidade, e exibir através do cinema”, afirmou em conversa com a Agência Brasil.

Takumã já teve filmes premiados em festivais como os de Gramado e de Brasília, e em eventos internacionais de cinema, como Presence Autochtone de Terres em Vues, em Montréal, no Canadá. Em 2017, recebeu o prêmio honorário bolsista da Queen Mary University London. E, em 2019, tornou-se o primeiro jurado indígena do Festival de Cinema Brasileiro de Brasília, um dos mais importantes do país.

No Fica 2025, o cineasta colaborou no processo de seleção de obras para mostras competitivas. Ele passou a enxergar um amadurecimento na produção audiovisual indígena, e defende a necessidade de superar as velhas narrativas de caráter etnográfico que permeou a produção cinematográfica sobre os povos tradicionais ao longo de décadas, dentro e fora do país.

“Temos que superar a narrativa etnográfica como única linguagem [sobre indígenas no cinema], essa tem sido a minha preocupação. E explorar a fundo a linguagem cinematográfica para contar nossas próprias histórias, criar nossos personagens, fazendo, por exemplo, mais filmes de ficção”, argumenta.  


Goiás Velho (GO), 13/06/2025 - O jurí do festival, Vicent Carelli, fala com Agência Brasil durante, 26ª edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica 2025), com o tema “Cerrado: a savana brasileira e o equilíbrio do clima”, o festival oferece uma vasta programação gratuita, que inclui mostras competitivas de cinema, oficinas, atrações culturais, atividades ambientais, sessões para o público infantil, shows musicais, além de fóruns e debates.
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Goiás Velho (GO), 13/06/2025 – Vicent Carelli fala com Agência Brasil durante a 26ª edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica 2025). Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Integrante do júri oficial do Fica 2025, o premiado cineasta e indigenista Vincent Carelli, criador do projeto Vídeo nas Aldeias (1987), que forma cineastas indígenas desde meados dos anos 1980, percebe diferenças fundamentais na produção de cinema entre indígenas e não indígenas.

“Esse acesso com intimidade, com a língua, com o conhecimento e convivência da cultura é outra coisa. Isso, em termos de conteúdo, de sensibilidade, tanto de quem filma quanto de quem é filmado, é um grande diferencial”, avalia.

“Eu sempre tentei fugir dessa ideia de cinema etnográfico para refletir as questões indígenas”.

Relações simétricas

Ao longo dos últimos anos, a colaboração entre indígenas e não indígenas tem sido uma constante no cinema sobre povos tradicionais, mas esse processo ainda ocorre em meio a tensões.

“Quando você vai nas aldeias, todos eles dizem que já tiveram experiências negativas com imprensa, com pesquisadores, com televisão, e com cineastas, né. Todos os agentes. Porque aí ocorre essa falta de simetria no relacionamento”, aponta Vincent Carelli. “Isso é algo que ainda acontece, mas esses jovens indígenas do cinema estão tendo uma atitude mais contundente contra isso atualmente, se colocando como diretores, assinando as obras”, acrescenta.

“Eu vejo muitos não indígenas se colocando acima dos indígenas, excluindo dos festivais mais importantes. Eu, por exemplo, participei do Festival de Gramado, em 2011. Eu ganhei lá um Kikito [premiação], mas, depois disso, nunca ouvi falar indígena participando. Então, ainda é uma coisa meio isolada, esse reconhecimento”, aponta Takumã Kuikuro.

“A gente enfrenta ainda um certo preconceito para ocupar esse espaço”, afirma Kléber Xukuru, cineasta e comunicador indígena, diretor da Ororubá Filmes. “Mas é bom lembrar que os povos indígenas do Brasil são resistentes e insistentes. E o audiovisual é uma ferramenta que hoje a gente tem visto também como uma porta de luta”, destaca.

Olhar indígena

No filme Minha Terra Estrangeira, essa questão aparece dentro e fora da tela. O longa, que estreou com grande sucesso no festival É Tudo Verdade, em abril, foi o principal filme convidado do Fica este ano, e contou com três exibições em salas de cinema da antiga capital goiana. Trata-se de uma colaboração entre o coletivo Lakapoy, formado por indígenas, Louise Botkay, que foi formada pelo projeto Vídeo nas Aldeias, e João Moreira Salles.

O filme acompanha o cacique Almir Suruí, líder indígena candidato a deputado federal por Rondônia, e sua filha, a Txai Suruí, jovem ativista ambiental, durante 40 dias que antecederam as eleições de 2022. A trajetória de Txai no filme foi acompanhada por Salles. O resultado são dois olhares simultâneos, complementares e distintos, sobre as jornadas de pai e filha.  

Uma cena do filme debate exatamente esse ponto, quando num diálogo entre Txai e João Moreira Salles, o diretor se questiona e a questiona sobre o olhar de um homem branco (no caso, ele próprio) para a ativista indígena, focado apenas na militância por direitos territoriais. Nesse momento, ela comenta que um diretor indígena poderia ter optado por ir além de filmar a ativista em ação, mas acompanhar outras dimensões da vida dela, como sua relação com a floresta e com o amor.

Janela de exibição

Uma das novidades desta edição do Fica é a criação do Fórum Indígena e de Povos Tradicionais, com o objetivo de amplificar os saberes e conhecimentos dos povos dos territórios e fortalecer a produção audiovisual feita por pessoas que fazem parte dessas comunidades. Além deste fórum, o festival conta, ainda, com os fóruns de Cinema e Meio Ambiente, criados em edições anteriores.

Uma das mostras competitivas é exclusivamente dedicada a exibir e premiar obras de realizadores indígenas e de povos e comunidades tradicionais. “É uma janela específica para esses realizadores, sem prejuízo de que eles estejam nas outras mostras também, como sempre estiveram e continuarão estando”, afirma o diretor de programação do festival, Pedro Novaes.

* A equipe de reportagem da Agência Brasil viajou a convite da organização do 26º Fica.

Rio São Francisco terá nova hidrovia para transporte de cargas ao NE


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O Rio São Francisco terá uma nova hidrovia para transporte de cargas do Sudeste (a partir de Pirapora-MG) para o Nordeste (a Juazeiro-BA e Petrolina-PE).

O projeto, apresentado pelo governo federal na última sexta-feira (13), é utilizar os 1.371 km de extensão navegáveis com uma projeção de movimentar cinco milhões de toneladas

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Entre as cargas previstas, estão insumos agrícolas, gesso, gipsita, calcário, grãos, bebidas, minério e sal

O ministro de Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, afirmou que a hidrovia será muito estratégica para o desenvolvimento da região. Neste mês de junho, ele disse que iria assinar a delegação das obras à Companhia das Docas do Estado da Bahia. 

Na sequência, estão previstos os estudos técnicos, conforme o ministro.

No percurso, o Velho Chico passa pelo Distrito Federal, por Goiás, pela Bahia, por Sergipe, Alagoas e Pernambuco. São 505 municípios e mais de 11,4 milhões de pessoas que, de alguma forma, se relacionam com um dos principais rios brasileiros.

Três etapas

O projeto foi dividido em três etapas. Na primeira, as ações vão se concentrar em um trecho de 604 quilômetros navegáveis, de Juazeiro a Petrolina, passando por Sobradinho (BA) e chegando em Ibotirama (BA). 

As cargas poderão ser escoadas por rodovias até o Porto de Aratu-Candeias, na Baía de Todos os Santos (BA).

A segunda etapa abrangerá o trecho entre Ibotirama e Bom Jesus da Lapa e Cariacá – municípios baianos – com 172 quilômetros navegáveis. Nesse trecho, haverá conexão, via malha ferroviária, até os Portos de Ilhéus (BA) e Aratu-Candeias. 

Já a terceira etapa aumentará a hidrovia em 670 quilômetros e ligará Bom Jesus da Lapa e Cariacá a Pirapora.

Navegabilidade

Em janeiro deste ano, o governo já havia anunciado que iria trabalhar em ações para expandir a navegabilidade nas hidrovias brasileiras. Outras obras no horizonte ainda neste ano são a realização de dragagens nas hidrovias do Tapajós e São Francisco e a manutenção do Madeira, Parnaíba e Paraguai (tramo Sul).

No Rio Grande do Norte, por exemplo, será realizada a proteção de dolfins (estrutura utilizada para auxiliar na amarração e atracação de navios) da Ponte Newton Navarro, para ampliar a segurança das embarcações e das pessoas que circulam no local.

O Ministério de Portos e Aeroportos considera que hoje o país tem 12 mil km de hidrovia navegáveis, com o potencial de alcançar 42 mil km. 

Mega-Sena não tem ganhador e prêmio vai a R$ 110 milhões

Nenhum apostador acertou as seis dezenas do concurso 2.876 da Mega-Sena, realizado neste sábado (14). O prêmio acumulou e está estimado em R$ 110 milhões para o próximo sorteio.

Os números sorteados foram: 09 – 31 – 32 – 40 – 45 – 55

A quina teve 61 apostas acertadoras e irão receber R$ 102.600,96 cada.

5.747 apostas acertaram quatro dezenas e irão receber R$ 1.555,75 cada.

Apostas

Para o próximo concurso, as apostas podem ser feitas até as 19h (horário de Brasília) de terça-feira (17), em qualquer lotérica do país ou pela internet, no site ou aplicativo da Caixa.

A aposta simples, com seis dezenas, custa R$ 5.