Lula vai à Cúpula da Celac em busca da integração latino-americana


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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa nesta quarta-feira (9), em Honduras, da 9ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), única organização que reúne os 33 países latino-americanos e caribenhos.

“A participação do presidente é um claro sinal da prioridade que, aliás, sempre foi dada pelo presidente Lula e pelo Brasil à integração. Na nossa Constituição, no Artigo 4º, consta que o Brasil deve buscar exatamente a Celac: a construção de uma comunidade de nações latino-americanas e caribenhas”, afirmou embaixadora Gisela Padovan.

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A secretária de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores (MRE) acrescentou que essa Cúpula faz parte de um processo de revitalização da Celac. Ela lembrou que a entidade foi enfraquecida nos últimos anos, citou a saída do Brasil da Celac no governo anterior, e lembrou que Lula decidiu que o país deveria voltar ao grupo logo no início do terceiro mandato. 

“O sonho da integração existiu desde Bolívar, desde San Martín [líderes dos processos de independência de países da América do Sul], que se falava essa visão de que juntos temos mais condição de enfrentar os desafios globais e também de nos desenvolvermos e resolvermos nossos problemas internos e regionais”, acrescentou a embaixadora.

Lula viaja à Tegucigalpa, em Honduras, ainda na terça-feira (8). A expectativa do Itamaraty é que a Cúpula realize um debate amplo sobre todos os temas da atualidade. Além disso, Honduras deve transferir para Colômbia à presidência do bloco. No final, deve ser publicada uma declaração conjunta dos 33 países da região. 

Tarifas e imigração  

O encontro da Celac ocorre no contexto de forte tensão na região em meio ao endurecimento das políticas contra imigração do governo dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, além da guerra de tarifas iniciada pela Casa Branca.  

O Itamaraty informou que o tema das tarifas não estava na pauta das negociações, até porque, quando a agenda foi preparada, não havia informação da extensão dessas tarifas.

Por outro lado, o tema da imigração será um dos destaques da Cúpula. A ideia é reativar um grupo de trabalho que existia na Celac para tratar do tema.

Devem participar do encontro ainda a presidente do México, Claudia Sheinbaum, da Colômbia, Gustavo Petro, da Bolívia, Luis Arce, do Uruguai, Yamandú Orsi, de Cuba, Miguel Diáz-Canel, entre outros, segundo o governo hondurenho, que organiza a Cúpula dessa semana.

Mulher latino-americana na ONU

Entre as propostas do Brasil que serão discutidas no encontro está a escolha de uma única candidatura feminina para disputar a secretária-geral das Nações Unidas (ONU) diante do fim do mandato do atual chefe da ONU, António Guterres, programado para o ano que vem. 

Celac

Fundada em fevereiro de 2010, a Celac reúne os 33 países da América Latina e do Caribe que abrangem uma área de mais de 22 milhões de km², o que equivale a cinco vezes o território da União Europeia. A população total somada, de 670 milhões, é o dobro do número de habitantes dos Estados Unidos.

Governo federal reconhece situação de emergência em Petrópolis


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O governo federal reconheceu situação de emergência no município de Petrópolis, na região serrana fluminense, devido às fortes chuvas que atingiram o estado entre sexta-feira (4) e domingo (6), segundo nota divulgada pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. 

Mais cedo, a Defesa Civil Nacional já havia reconhecido situação de emergência em Angra dos Reis, no sul fluminense. Com isso, os dois municípios podem solicitar recursos federais para ações de defesa civil, como compra de cestas básicas, água mineral, refeição para trabalhadores e voluntários, kits de limpeza de residência, higiene pessoal e dormitório, entre outros.

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O Corpo de Bombeiros fluminense resgatou pelo menos 80 vítimas das chuvas desde sexta-feira (4) no estado do Rio. Segundo a Secretaria Estadual de Defesa Civil, nenhuma delas estava em situação de saúde grave. Não foram registradas mortes até a tarde desse domingo (6).

Ainda de acordo com os bombeiros, até as 19h de ontem havia 523 pessoas desalojadas e 48 desabrigadas (ou seja, aquelas que precisaram de abrigo público) no estado. Angra dos Reis foi um dos municípios que mais registrou desalojados por causa das chuvas.

Segundo a prefeitura do município do litoral sul fluminense, o número de pessoas que tiveram que deixar suas casas superou 300, mas, às 21h20, havia caído para 174.

Em Petrópolis, as chuvas provocaram deslizamentos e alagamentos, mas não deixaram vítimas. Ruas tiveram que ser interditadas e os fornecimentos de água e de luz foram interrompidos em alguns locais do município. Mais de 3,3 mil pessoas ficaram sem luz, informou a prefeitura.

Ainda segundo a prefeitura do município da região serrana, em 24 horas, em algumas regiões, choveu 50% a mais do que o esperado para todo o mês. A previsão para o período era em torno de 200 milímetros (200 litros por metro quadrado), mas na localidade de São Sebastião, por exemplo, o pluviômetro registrou 301 mm acumulados em 24 horas, no sábado (5).

A Secretaria Estadual de Defesa Civil informou que os bombeiros atenderam a 522 ocorrências relacionadas às chuvas até as 19h de ontem, o que incluiu 150 salvamentos de animais e atuações em 37 alagamentos e 18 deslizamentos de terra.

Alison dos Santos volta a vencer na Jamaica, desta vez nos 400m rasos


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O brasileiro Alison do Santos, o Piu, voltou a brilhar no Grand Slam Track, em Kingston (Jamaica), neste domingo (6), ao vencer a prova dos 400 metros rasos, que não é sua especialidade. Após a largada, Piu seguiu na terceira posição até acelerar na reta final e cruzar a linha de chegada em primeiro lugar em 45s52. Os norte-americanos Chris Robinson (45s54) e Caleb Dean (45s.68) terminaram em segundo e terceiro lugares, respectivamente. Na noite de sexta (4), Piu já conquistara os 400m com barreiras – prova de sua especialidade – também no Estádio Nacional de Kingston.

“O vento estava muito forte, mas vim, fiz o meu trabalho e conquistei o prêmio. Fiz o meu melhor e significa muito porque amo competir, estar na pista. Quando virou os 200m vi que estava atrás e pensei que só não poderia perder para o Clarke”, detalhou Alison, que competiu há quase um ano na prova dos 400m rasos, no Florida Relays, quando fez o tempo de 45s25.

Com a segunda vitória seguida em Kingston, Piu totalizou 24 pontos e lidera o seu grupo de provas (400m com barreiras e 400m rasos). O brasileiro, bronze olímpico nos Jogos de Paris, também recebeu a premiação de US$ 100 mil (equivalente a R$ 584 mil) ao cravar duas vitórias seguidas em Kingston.

O Grand Slam Track é uma nova série de atletismo, organizada por Michael Johnson – quatro vezes campeão olímpico nos 200m e 400m -, com grandes atletas da modalidade. A competição abrange seis grupos de provas, cada uma com oito participantes (quatro corredores e quatro convidados, denominados desafiantes).

O circuito Grand Slam Track prevê ao todo 96 provas, sendo 24 delas por etapa. Após Kingston, os demais eventos serão nos Estados Unidos: de 2 a 4 de maio em Miami; de 30 de maio a 1º de junho na Filadélfia; e de 27 a 29 de junho em Los Angeles. Em cada evento, são disputadas provas de velocidade curta (100m – 200m), barreiras curtas (100m ou 110m com barreiras), velocidade longa (200m – 400m), barreiras longas (400 m com barreiras), meio-fundo (800m – 1.500 m) e fundo (3.000m – 5.000m).

Caminhada do Silêncio pede combate à impunidade da violência de Estado


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Ativistas, pesquisadores, advogados e estudantes participaram neste domingo da 5ª Caminhada do Silêncio pelas vítimas de violência do Estado. A caminhada começou em frente ao antigo Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), na Rua Tutoia. O tema do ato foi “Ainda estamos aqui”, inspirado no filme de Walter Salles, premiado pelo Oscar deste ano e dedicado à memória da advogada Eunice Paiva.

O objetivo da caminhada é preservar a memória histórica e combater a impunidade das violências cometidas pelo Estado, tanto no período da ditadura militar quanto na atualidade. 

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Os manifestantes levaram cartazes com fotos de desaparecidos durante a ditadura e faixas com pedido de prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de envolvimento na trama golpista que resultou no ataque de 8 de janeiro de 2023.

 


São Paulo (SP) 06/04/2025 - Parentes e Torturados durante o regime militar de 64 em frente ao DOI/CODI, onde foi assassinado o jornalista Vladimir Herzog, participam da 5ª Edição da Caminhada do Silêncio pelas vítimas de violência do Estado, próximo ao Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos no Parque Ibirapuera. Foto: Paulo Pinto/Agencia Brasil

São Paulo (SP) 06/04/2025 – 5ª Edição da Caminhada do Silêncio pelas vítimas de violência do Estado, próximo ao Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos no Parque Ibirapuera. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

O ato terminou no Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos, no Parque Ibirapuera.

A mobilização foi organizada pelo Movimento Vozes do Silêncio, representado pelo Núcleo de Preservação da Memória Política, Instituto Vladimir Herzog e a Organização dos Advogados do Brasil (OAB-SP). Conta ainda com apoio de diversas organizações da sociedade civil, como a Anistia Internacional Brasil, a Comissão Arns e a União Nacional do Estudantes (UNE), além do mandato do deputado estadual Antonio Donato (PT), autor da lei que incluiu o evento no calendário oficial da cidade de São Paulo.

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Bolsonaro nega tentativa de golpe e diz esperar por “ajuda externa”


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Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro participaram na tarde deste domingo (6) de um ato na avenida Paulista, na região central da capital paulista, convocado por ele, para pedir a anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro em Brasília. O protesto começou por volta das 14h e ficou centralizado na defesa do projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados que concede anistia a condenados pelos atos antidemocráticos.

Em seu discurso Bolsonaro, defendeu a cabeleireira Débora Rodrigues Santos, presa por participação no ataque golpista e por ter pichado a estátua “A Justiça”, em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), com um batom. Manifestantes vestidos de verde amarelo mostravam batons em referência a Débora, que já teve a prisão domiciliar concedida.

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Segundo a Procuradoria-Geral da República, ela aderiu ao movimento golpista desde o fim das eleições de 2022, e é suspeita de apagar provas e atrapalhar o trabalho de investigadores e da Justiça.

Durante sua fala, Bolsonaro disse acreditar que se estivesse no Brasil em 8 de janeiro teria sido preso, o que não ocorreu porque ele viajou para os EUA em 30 de dezembro de 2022. “Algo me avisou. Se eu estivesse no Brasil eu teria sido preso e estaria apodrecendo até hoje ou até assassinado”.

O ex-presidente lembrou que a falta de um dos filhos no ato, Eduardo Bolsonaro, que se licenciou do mandato de deputado federal e se mudou para os Estados Unidos alegando perseguição política. Segundo ele, Eduardo tem contato com pessoas importantes do mundo todo. “Tenho esperança que de fora venha alguma coisa para cá”.

 


Supporters of former Brazilian President Jair Bolsonaro gather, on the day of a demonstration against Bolsonaro's judicial process and to demand the amnesty of all accused of taking part in the allegedly conspiring to overthrow the government, in Sao Paulo, Brazil, April 6, 2025. Reuters/Amanda Perobelli/Proibida reprodução

REUTERS/Amanda Perobelli/Proibida reprodução

Inelegível

Além de Bolsonaro, estavam presentes na manifestação o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas; o de Minas Gerais, Romeu Zema; o do Paraná, Ratinho Junior; o do Amazonas, Wilson Lima; o de Goiás, Ronaldo Caiado; o de Mato Grosso, Mauro Mendes; e o de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL). Parlamentares e outras autoridades, como o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, também participaram do ato.

Bolsonaro está inelegível por 8 anos, até 2030, porque a Justiça Eleitoral entendeu que a reunião com embaixadores estrangeiros, em julho de 2022, no Palácio da Alvorada, teve uso eleitoral. Na ocasião, o então presidente, fez afirmações sem provas, desacreditando o sistema eleitoral brasileiro.

Ele é réu por tentativa de golpe, junto com mais sete pessoas, desde o mês passado, desde a decisão unânime da Primeira Turma do STF. Os cinco ministros votaram para aceitar a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A partir de então, Bolsonaro e os outros réus, passarão a responder a um processo penal que pode condená-los à prisão.

União Europeia busca unidade em primeira ação contra tarifas de Trump


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Os países da União Europeia tentarão apresentar uma frente unida nos próximos dias contra as tarifas de importação dos Estados Unidos criadas por Donald Trump, provavelmente aprovando um primeiro conjunto de contramedidas direcionadas a até US$28 bilhões em importações de produtos norte-americanos, de fio dental a diamantes.

Tal medida significará que a UE se juntará à China e ao Canadá na criação de sobretaxas retaliatórias contra os EUA, em uma escalada do que alguns temem que se torne uma guerra comercial global aberta, tornando os produtos mais caros para bilhões de pessoas e levando as economias de todo o mundo à recessão.

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O bloco de 27 países europeus enfrenta tarifas de importação de 25% sobre aço, alumínio e automóveis e tarifas “recíprocas” de 20% a partir de quarta-feira para quase todos os outros produtos.

As sobretaxas de importação criadas pelo governo Trump abrangem cerca de 70% das exportações da UE para os EUA ─ que no ano passado somaram 532 bilhões de euros – com prováveis tarifas sobre cobre, produtos farmacêuticos, semicondutores e madeira ainda por vir.

A Comissão Europeia, que coordena a política comercial da UE, proporá aos membros no final da segunda-feira uma lista de produtos norte-americanos a serem atingidos com taxas extras em resposta às tarifas sobre aço e alumínio de Trump, em vez de taxas recíprocas mais amplas.

A lista deverá incluir carne, cereais, vinho, madeira e roupas dos EUA, bem como goma de mascar, fio dental, aspiradores de pó e papel higiênico.

Um produto que recebeu mais atenção e expôs a discórdia no bloco foi o uísque. A Comissão estabeleceu uma tarifa de 50%, o que levou Trump a ameaçar com uma contra-tarifa de 200% sobre as bebidas alcoólicas da UE se o bloco for adiante.

Os exportadores de vinho França e Itália expressaram preocupação. A UE, cuja economia depende fortemente do livre comércio, está empenhada em garantir que terá amplo apoio para qualquer resposta, de modo a manter a pressão sobre Trump para que o bilionário assessorado por Elon Musk reveja as novas tarifas.

Luxemburgo sediará na segunda-feira a primeira reunião política em toda a UE desde o anúncio de Trump sobre as tarifas abrangentes, quando os ministros responsáveis pelo comércio dos 27 membros da UE trocarão opiniões sobre o impacto e a melhor forma de responder.

Diplomatas da UE afirmaram que o principal objetivo da reunião será a obtenção de mensagem unificada do desejo de negociar com Washington a remoção das tarifas, mas com a disposição de responder com contramedidas caso isso não aconteça.

“Nosso maior temor após o Brexit eram acordos bilaterais e uma quebra de unidade, mas isso não aconteceu durante três ou quatro anos de negociações. É claro que aqui temos uma história diferente, mas todos podem ver o interesse em uma política comercial comum”, disse um diplomata da UE.

Contra-tarifas

Entre os membros da UE, há um espectro de opiniões sobre como reagir. A França disse que a UE deveria trabalhar em um pacote que vai muito além das tarifas e o presidente francês Emmanuel Macron sugeriu que as empresas europeias deveriam suspender os investimentos nos EUA até que “as coisas sejam esclarecidas”.

A Irlanda, que tem quase um terço de suas exportações para os EUA, pediu uma resposta “ponderada e comedida”, enquanto a Itália, que tem um governo favorável a Trump e é o terceiro maior exportador da UE para os EUA, questionou se a UE deveria mesmo revidar.

“É um equilíbrio difícil. As medidas não podem ser muito brandas para fazer os EUA virem à mesa de negociações, mas também não podem ser muito duras para levar a uma escalada”, disse um diplomata da UE.

Até o momento, as conversas com Washington não renderam frutos. O chefe de comércio da UE, Maros Sefcovic, descreveu sua conversa de duas horas com os pares norte-americanos na sexta-feira como “franca”, pois disse a eles que as tarifas norte-americanas eram “prejudiciais e injustificadas”.

As contra-tarifas iniciais da UE serão, de qualquer forma, submetidas a uma votação na quarta-feira e serão aprovadas, exceto no caso improvável de uma maioria qualificada de 15 membros da UE, representando 65% da população da UE, se opor a elas. Elas entrarão em vigor em duas etapas, uma parte menor em 15 de abril e o restante um mês depois.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também realizará discussões separadas na segunda e terça-feira com os principais executivos dos setores siderúrgico, automotivo e farmacêutico da UE para avaliar o impacto das tarifas e determinar o que fazer em seguida.

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Livro de memórias de Ney Matogrosso será tema do Clube do Livro CCBB


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Mais uma vez, a coerência pontua a vida do cantor Ney Matogrosso, contada no livro Ney Matogrosso – Vira-lata de raça – memórias. A publicação surgiu em um momento em que o cantor pensava em reunir todas as matérias publicadas sobre ele, para ver se era coerente em seu pensamento. “Foi assim que começou a história do livro”, contou em entrevista à Agência Brasil.

Embora seja um livro de memórias de passagens marcantes da sua trajetória pessoal e profissional, Ney revelou que, durante o trabalho com o organizador do livro, o escritor Ramon Nunes Mello, não teve a questão de reviver o passado, porque tudo já está muito distante no tempo.

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“Então, não tem, assim, movimento emocional. Não existe isso. É uma coisa que sai conversando, e eu dou total liberdade de perguntar o que quiser. Não tem problema”, afirmou, explicando que foi fácil trabalhar com Ramon, de quem é amigo desde 2011. “Ele me conhecia”.

Clube de Leitura

Todas essas histórias serão divididas com o público que estará presente no segundo Clube de Leitura do Centro Cultural Banco do Brasil em 2025, no dia 9. Os encontros organizados pelo CCBB, sempre na segunda quarta-feira de cada mês, são realizados no Salão de Leitura da Biblioteca Banco do Brasil, no quinto andar do CCBB-Rio. Com entrada gratuita, a retirada dos ingressos é na bilheteria do CCBB ou pelo site.

“Vamos lá sentar e conversar. Não sei nem qual é o formato da coisa. Sei que a gente vai sentar em uma mesa e começar a conversar sobre o livro. Quer dizer, o assunto é o livro, mas é de uma maneira mais geral, não é restrito a ele”, explicou Ney, disposto a conversar sobre qualquer assunto da sua trajetória.

Para o artista, a elaboração do Ney Matogrosso – Vira-lata de raça – memórias, foi bem diferente da que viveu com o primeiro livro publicado sobre ele. O Um cara meio estranho, escrito pela jornalista Denise Pires Vaz, causou um certo impacto nele.

“Nunca tinha falado sobre a minha vida tão claramente para um livro. Um cara meio estranho, da escritora chamada Denise, uma jornalista na verdade, me deixou meio inseguro de estar expondo tanta coisa da minha vida, mas eu também não achava outra forma de falar que não fosse a verdade. Eu fiquei meio inseguro. Já com o Ramon, não. Não tive insegurança em nenhum momento. No primeiro, eu não sabia qual seria a reação àquilo. Nesse, eu já estava mais firme, mais maduro da cabeça”, comparou.

Parte dessa sensação de mais conforto vem da amizade que ele e Ramon têm há 14 anos. “O fato de ser uma pessoa com que eu tinha proximidade mudou tudo. A primeira, não. Eu não conhecia a moça. Ela, um dia, chegou para mim e disse que queria fazer um livro. Eu fiz uma entrevista para uma revista com ela e, logo em seguida, passado um tempo, ela veio com essa história de livro. Eu falei: ‘Não quero livro. Não quero falar da minha vida’, mas ela foi insistente. Nós tivemos várias brigas durante o percurso todo do livro”, comentou, concordando que a insistência de Denise foi meio Ney, em ser firme no que quer fazer. “Sim, e aí fui concedendo para ela, mas irritado. Ela queria ir muito”, disse sorrindo.

Ramon destacou que ele não se coloca como autor e, sim, organizador do livro, com um trabalho de escuta de quem é o personagem da publicação. “A minha assinatura não está na capa, está na parte interna do livro. É como se o Ney tivesse contando aquela história, em um livro de memórias. Não me proponho a fazer uma biografia. Não é uma biografia. É um livro de memórias, com fragmentos de vida importantes para o Ney”, explicou.


Rio de Janeiro – 04/04/2025  Ney com o Ramon Nunes Mello. Foto Isa Pessoa.

Ney Matogrosso com o Ramon Nunes Mello. Divulgação/Isa Pessoa.

Saída de casa

Entre as memórias que estão no livro, estão as divergências que tinha com o pai, que tentou impor sua autoridade e moldar o seu comportamento. Foi, por não concordar com isso, que saiu de casa.

“Sabe o que eu acho disso? Dessa história minha de ter saído de casa aos 17 anos? Foi a melhor coisa que eu fiz na vida. Eu ousaria dizer que todos os adolescentes deveriam fazer isso. Sai de casa, vai viver sua vida. Você estuda o suficiente, sai de casa e vai viver sua vida. É uma experiência muito boa. No final da sua juventude, você vai crescendo mais seguro de si, dono da sua história, dono da sua vida. Tudo que meu pai me proibiu, depois que eu saí de casa, eu me aproximei de tudo, teatro, música, pintura. De tudo, tudo, eu me aproximei”, relatou, dizendo que, assim, teve oportunidade de expandir o seu horizonte. “Sim, porque só me interessava a arte mesmo. Era só isso”.

Ney contou que este momento só reforçou a sua necessidade de viver em liberdade. “Acho que a única forma boa de viver é com liberdade total, absoluta. Claro que, na vida, a gente vai mudando. Há momentos em que você quer mais liberdade, e, outros, em que você necessita de menos, mas é isso. A liberdade sempre em primeiro lugar para mim, sempre, desde criança, dentro e fora de casa”, pontuou.

Mediadores

A mediação deste Clube de Leitura será da curadora Suzana Vargas e do Ramon Nunes Mello, com o microfone aberto para o público presente nos 30 minutos finais do encontro. Já no quarto ano de existência, o clube começou no fim da pandemia e tem mantido um público fiel. Segundo Suzana Vargas, um dos objetivos do clube é tratar a leitura de uma forma mais plural.

“O Ney é uma grande personalidade da cultura brasileira e é um grande leitor. Esse é um traço que as pessoas desconhecem, veem o Ney no palco e não levam em conta o homem de cultura que ele é. A gente vai conversar também sobre os livros na vida dele. O público vai ter oportunidade de se informar sobre o Ney”, afirmou à Agência Brasil.

“O Ney é um bicho livre, só faz o que deseja, não tem nenhum tipo de censura ou autocensura para absolutamente nada. Aqui no livro, ele se desnuda, o envolvimento dele com drogas, ele nomeia e dá nome aos bois e também a tudo que contribuiu para ele ser a pessoa que é hoje. Um dos artistas que mais admiro no sentido da postura existencial dele”, completou, adiantando que, durante a conversa, Ney vai ler um trecho do livro, que estará à venda na entrada da Biblioteca.

“Pra mim o Ney é o símbolo da liberdade. Se você pensa na liberdade no Brasil, você pensa no Ney, esse ser que defende a livre manifestação artística, a manifestação do ser e vem com essa bandeira desde que estreou. Então, ele tem uma coerência muito grande no pensamento dele, no que acredita, no que defende, e isso no auge dos 83 anos”, afirmou Ramon, acrescentando que Ney é um multiartista, cantor, compositor, dançarino, ator de cinema, iluminador e diretor de teatro e shows, além de ativista do meio ambiente e da defesa de animais.

Filme

O Clube de Leitura com o livro do Ney Matogrosso – Vira-lata de raça – memórias ocorre pouco antes da estreia, no dia 1º de maio, de outra obra: o filme Homem com H, que conta momentos da vida do artista que quebrou preconceitos e sempre se destacou pela verdade com que conduz o seu caminho. O longa é dirigido pelo diretor Esmir Filho.

A coincidência entre os dois lançamentos é que o livro foi uma das fontes para o filme. “Eles juntaram [esse livro] com o livro do Júlio Maria [Ney Matogrosso: A biografia]. Juntaram as informações desses dois livros e fizeram o filme”, contou o cantor.

Ney já assistiu ao filme mais de uma vez e gostou de ter participado diretamente durante a produção. “Eu tinha uma única coisa que pedia ao diretor: ‘não pode ter mentira’. O filme tem que prezar somente a verdade, e trabalhamos assim, com muita liberdade. Eu li 12 roteiros do filme”.

O personagem principal gostou do que viu. “Eu vi o filme e confesso que na primeira vez, fiquei bastante emocionado, porque era muita coisa crua jogada na minha cara, mas eu gosto do filme, gosto muito do resultado. Os atores estão maravilhosos, todos. O diretor é muito bom”, elogiou, brincando com a diferença de linguagens entre as duas obras. “É, em um livro você imagina, no cinema você vê”, concluiu.

Milhares de indígenas acampam em Brasília pelo direito à terra


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A 21ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL) recebe, neste domingo (6), em Brasília, milhares de indígenas de todas as regiões do país em defesa da demarcação dos seus territórios. São esperadas cerca de 10 mil indígenas com previsão de atos e programações entre 7 e 11 de abril.

No acampamento, em meio ao comércio do artesanato indígena, o português se mistura com outras das 274 línguas indígenas do Brasil, na maior mobilização anual dos povos originários brasileiros.  

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A indígena Andrea Nukini, de 44 anos, levou quatro dias e quatro noites viajando de ônibus da aldeia do povo Nukini, no município de Mancio Lima (AC), até Brasília. Segundo ela, a falta de demarcação obriga os povos a se manterem mobilizados.

“A nossa luta nunca acaba, porque a gente nunca tem o território totalmente nosso e demarcado. Era para todos nós, povos indígenas, termos nossos territórios demarcados, como manda a Constituição há mais de 35 anos. Mas isso não acontece”, destacou a indígena Nukini.

Marco Temporal.

Entre as prioridades do movimento neste ano, como nas edições anteriores, está a luta contra o Marco Temporal, tese que diz que apenas os povos indígenas que estavam em seus territórios na promulgação da Constituição, em outubro de 1988, têm direito à demarcação da terra.

A coordenadora secretária da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Marciely Tupari, explicou que a expectativa é reverter o cenário atual, criado com a mesa de conciliação estabelecida no Supremo Tribunal Federal (STF) para discutir o Marco Temporal. Indígenas organizados abandonaram a mesa por contestarem sua legitimidade.

“O movimento indígena definiu que estar nesse espaço era validar o que o Gilmar Mendes estava propondo, e uma das propostas era a mineração em territórios indígenas, o que sempre fomos contra. Não fazia sentido a gente estar num espaço para debater os nossos direitos e liberar o nosso território para empreendimentos. Nossos direitos não são negociáveis”, afirmou a liderança.

 


Brasília (DF), 06/04/2025 - Marciely Tupari, coordenadora secretária da COIAB - Coorednação das organizações indígenas da amazônia brasileira, em frente a barracas no Acampamento Terra Livre - ATL, no espaço Funarte. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Marciely Tupari, coordenadora secretária da COIAB, em frente a barracas no Acampamento Terra Livre (ATL), no espaço Funarte. Bruno Peres/Agência Brasil

Após o Marco Temporal ser considerado inconstitucional pelo STF, o Congresso Nacional aprovou a lei que instituiu a tese. O caso, então, voltou para o Supremo e o relator do processo, ministro Gilmar Mendes, abriu uma mesa de conciliação para tratar do tema, solução que vem sendo rejeitada pelo movimento indígena.

Nessa mesa, Gilmar Mendes apresentou proposta de legislação que abre caminho para mineração em terras demarcadas. Posteriormente, a proposta foi retirada, mas voltará a ser tratada em outra conciliação aberta por Mendes. 

“A gente tem exemplo do impacto que a mineração traz para dentro dos territórios e dos nossos rios, como ocorre com os Yanomami e os Munduruku. Os parentes estão sofrendo com a desnutrição, com mercúrio dentro do corpo, os peixes estão contaminados”, justificou Marciely.

Agronegócio e COP30

O ATL 2025 busca ainda articular a pauta dos povos indígenas com a realização da COP30, para convencer os países que vem ao Brasil de que a demarcação dos territórios indígenas é parte da luta contra o aquecimento da terra. A Conferência da ONU para Mudanças Climáticas (COP30) ocorrerá em Belém (PA), em novembro deste ano.

“A gente está se articulando também para fazer, por exemplo, uma NDC [Contribuição Nacionalmente Determinada} indígena, para se contrapor à NDC que o governo lançou na COP do ano passado, quando ele não introduziu os problemas que o agronegócio traz para as mudanças climáticas”, acrescentou a liderança da COIAB.

As NDC são as metas definidas pelos países para redução dos gases do efeito estufa. O governo brasileiro apresentou sua NDC prevendo reduzir em 53% a emissão de gases até 2030

‘A resposta somos nós’

Com o tema “A respostas somos nós: Em defesa da Constituição e da vida”, o Acampamento Terra Livre de 2025 é organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e deve receber cerca de 200 povos de todas as regiões do país em cinco dias de programações e protestos à favor da demarcação das terras indígenas.

 


Brasília (DF), 06/04/2025 - Indígenas montam barraca no Acampamento Terra Livre - ATL, no espaço Funarte. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Indígenas montam barraca no Acampamento Terra Livre (ATL), no espaço Funarte. Bruno Peres/Agência Brasil

Após vídeo, Israel muda versão de assassinatos de paramédicos em Gaza


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O exército israelense forneceu novos detalhes que mudaram sua versão inicial sobre o assassinato de 15 trabalhadores de emergência perto da cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, no mês passado, mas disse que investigadores ainda examinam as evidências.

Os 15 paramédicos e socorristas foram mortos a tiros em 23 de março e enterrados em uma cova rasa, onde seus corpos foram encontrados uma semana depois por funcionários das Nações Unidas e do Crescente Vermelho Palestino. Outro homem ainda está desaparecido.

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Os militares de Israel disseram inicialmente que os soldados abriram fogo contra veículos que se aproximaram de sua posição de forma “suspeita” no escuro, sem luzes ou marcações. Eles disseram que mataram nove militantes do Hamas e da Jihad Islâmica que estavam viajando em veículos do Crescente Vermelho Palestino.

No entanto, um vídeo recuperado do celular de um dos homens mortos e publicado pelo Crescente Vermelho Palestino mostra trabalhadores de emergência em seus uniformes e ambulâncias e caminhões de bombeiros claramente marcados, com as luzes acesas, sendo atacados a tiros pelos soldados israelenses.

O único sobrevivente conhecido do incidente, o paramédico do Crescente Vermelho Palestino Munther Abed, também disse ter visto soldados israelenses abrindo fogo contra veículos de emergência claramente identificados.

Um oficial militar israelense disse no final do sábado que investigadores estão examinando o vídeo e que as conclusões devem ser apresentadas aos comandantes do exército neste domingo.

A mídia israelense informada pelos militares relatou que as tropas haviam identificado pelo menos seis dos 15 mortos como membros de grupos militantes. No entanto, o oficial se recusou a fornecer qualquer evidência ou detalhe de como as identificações foram feitas, dizendo que não queria compartilhar informações confidenciais.

“De acordo com nossas informações, havia terroristas no local, mas a investigação ainda não terminou”, disse ele a jornalistas na noite de sábado.

A ONU e a Cruz Vermelha Palestina exigiram uma investigação independente sobre a morte dos paramédicos.

Autoridades do Crescente Vermelho disseram que 17 paramédicos e trabalhadores de emergência do Crescente Vermelho, do Serviço de Emergência Civil e da ONU foram enviados para responder a relatos de ferimentos causados por ataques aéreos israelenses.

Além de Abed, que foi detido por várias horas antes de ser liberado, outro trabalhador ainda está desaparecido.

Fogo aberto

O oficial militar disse que os resultados iniciais da investigação mostraram que as tropas de Israel abriram fogo contra um veículo por volta das 4h da manhã, matando dois membros das forças de segurança interna do Hamas e fazendo outro prisioneiro, que, segundo o oficial, admitiu em interrogatório ser do Hamas.

Com o passar do tempo, vários veículos passaram pela estrada até que, por volta das 6h da manhã, ele disse que as tropas receberam informações da vigilância aérea de que um grupo suspeito de veículos estava se aproximando.

“Eles acharam que se tratava de outro incidente como o que aconteceu às 4h da manhã e abriram fogo”, disse o oficial.

Ele disse que as imagens de vigilância aérea mostraram que as tropas israelenses estavam a uma certa distância quando abriram fogo, e negou os relatos de que as tropas israelenses algemaram pelo menos alguns dos paramédicos e atiraram neles à queima-roupa.

“Não foi de perto. Eles abriram fogo de longe”, disse ele. “Não há maus-tratos contra as pessoas de lá.”

Ele disse que os soldados de Israel haviam se aproximado do grupo que haviam atacado, identificando pelo menos alguns deles como militantes. No entanto, ele não explicou quais evidências levaram a essa avaliação.

“E, a seu ver, eles tiveram um encontro com terroristas, o que é um encontro bem-sucedido com terroristas.”

Ele disse que as tropas de Israel informaram a ONU sobre o ataque no mesmo dia e inicialmente cobriram os corpos com uma rede de camuflagem até que pudessem ser recuperados. As autoridades da ONU não responderam imediatamente a um pedido de comentário da Reuters.

“Não houve nenhum incidente em que as IDF tentaram encobrir. Pelo contrário, eles ligaram para a ONU imediatamente.”

Mais tarde, quando a ONU não chegou imediatamente para levar os corpos, os soldados os cobriram com areia para impedir que os animais os pegassem, disse o funcionário.

Ele disse que os veículos foram empurrados para fora do caminho por um veículo pesado de engenharia para limpar a estrada, mas não conseguiu explicar por que os veículos foram esmagados pelo veículo de engenharia e depois enterrados.

* É proibida a reprodução deste texto e foto

Após 15 anos, sobreviventes contam traumas de temporais em Niterói


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O pintor Raphael Lacerda de Abreu foi passar apenas uma noite no estúdio de gravação de um amigo, em Niterói, para a gravação da música Outro Mundo, trabalho musical que ele assina como MC Xacal. Aquela noite, entretanto, foi a de 7 de abril de 2010, quando um temporal de proporções ainda difíceis de estimar causou um cenário de devastação na cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro.

Fechado no estúdio, ele só descobriu no dia seguinte que a casa em que morava com o pai, a madrasta e o irmão, na comunidade São José, foi destruída pela tempestade. O melhor amigo, que morava no segundo andar, também foi vítima do desabamento. Desabrigado e sem sua família mais próxima, Raphael teve que se mudar para a casa de um amigo.

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“Quando foi por volta de 9h30 da manhã seguinte, a minha prima me ligou”, lembra ele. “Ela disse: ‘pelo amor de Deus, a sua casa desabou, Raphael’. Senti muito pânico na voz dela, mas não entendi nada. Ela desligou e, depois, acho que a minha tia me ligou com muito mais calma e falou: ‘Olha, Raphael, vai lá para casa, porque parece que foi um terror’. Eu já fiquei sem chão, porque estava todo mundo em casa”.

Com a ajuda de voluntários e de uma retroescavadeira, o primeiro corpo a ser encontrado foi o do pai, três dias depois do desabamento da casa em que Raphael passou a adolescência e o início da juventude. Em seguida, foram retirados dos destroços os corpos da madrasta, do irmão e do melhor amigo. Todos os quatro foram encontrados juntos.

A consequência mais devastadora daquele temporal foi o deslizamento do Morro do Bumba, que deixou 48 mortos e 200 desaparecidos, cujos corpos nunca foram encontrados. A comunidade havia sido construída sobre um antigo lixão, e a falta de sustentação do solo fez com que uma encosta com dezenas de residências fosse a baixo.

As fortes chuvas que atingiram a Região Metropolitana do Rio de Janeiro naquela semana começaram no dia 5 de abril, e continuaram a encharcar o solo até culminarem no desabamento do dia 7. Outras 25 regiões além do Morro do Bumba foram afetadas com maior gravidade na cidade, segundo o secretário municipal adjunto da Defesa Civil de Niterói, Walace Medeiros. De acordo com o coronel, na época, o município não possuía instrumentos adequados para medir o volume das chuvas, mas noticiários do período estimaram pouco mais de 300 mm em quatro dias: “Isso é um volume de chuva considerado muito alto. É mais do que o estimado para um mês”, compara.


Brasília (DF), 02/04//2025  - Sessão da Câmara dos Deputados durante votação das medidas de reciprocidade em comércio exterior. Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Raphael Lacerda de Abreu sobreviveu à tragédia – Arquivo pessoal

Abrigos

Quem sobreviveu à tragédia no Bumba e em outras comunidades de Niterói passou por um período de espera para ter seu direito à moradia efetivado. Após os deslizamentos, eles foram encaminhados para dois abrigos municipais: o 4º Grupo de Companhias de Administração Militar (G-CAM), no Barreto, e o 3º Batalhão de Infantaria (3º BI), em Venda da Cruz, em São Gonçalo. Nos espaços, foram cadastrados para receber o aluguel social, um benefício no valor de R$ 400 pago pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro às vítimas.

“Tentei ir para o abrigo, mas não tinha condição. Era uma situação muito pesada. Então, quem tinha condições de ir para a casa de um amigo ou de um parente, ia. Realmente, não queria ficar no abrigo. Já estava na casa do meu amigo, então continuei”, conta Raphael.

Também vítima das chuvas, Adriana Cláudio Pereira da Silva não perdeu a casa ou familiares durante a tempestade, mas precisou abandonar o lar no Morro do Viradouro, localizado no bairro de mesmo nome, após uma vistoria da Defesa Civil, que identificou uma rachadura na residência devido à queda de uma barreira. Ela recorda que pelo menos três casas desabaram na comunidade durante a noite de chuvas mais intensas.

Diferentemente de Raphael, Adriana e a família — o companheiro e duas filhas — decidiram evacuar o local e ir para o abrigo. Primeiro, eles foram recebidos na associação de moradores da comunidade e, depois, em uma creche comunitária, de onde foram levados para o 3º BI. Lá, a família viveu provisoriamente por quatro anos.

“Quatro anos morando em um lugar provisório que era um quartel abandonado. Ficamos lá porque a Prefeitura dizia que ia nos assistir, mas era um lugar abandonado, com um banheiro coletivo. Era uma coisa horrenda, não conseguíamos dormir direito, era briga todo dia, não tinha como entrar no banheiro, não tinha como tomar banho. Era uma coisa bem precária mesmo”, lembra.

No espaço desativado cedido pelo Exército, Adriana diz que “não vivia, sobrevivia, porque era um dia pior que o outro”. A situação se tornou ainda mais complicada quando descobriu que estava grávida, dois meses após chegar ao 3º BI. “Passei esse período todo no quartel gestante e tive meu filho lá. Foi bem complicado, porque só descobri que estava grávida quando já tinha dois meses. Na época em que aconteceu tudo isso, estava tão preocupada, tão nervosa com tanta coisa acontecendo, com tanta mudança, que não percebi. Quando saímos de lá, o meu filho já estava com três anos”. 

Mesmo com a precariedade do abrigo, o que manteve Adriana no 3o BI foi a promessa de ser uma das primeiras a receber um apartamento no condomínio em construção para os desabrigados e desalojados em razão das chuvas, além da impossibilidade de alugar um espaço para viver com a família, agora com cinco membros, com o valor do aluguel social, que não passou por reajuste ao longo dos anos. Somente quando a Prefeitura de Niterói anunciou que seriam pagos R$ 600 adicionais às vítimas que Adriana pôde alugar um espaço para viver até a inauguração do conjunto habitacional no Fonseca.


Niterói (RJ), 05/04/2025 - Morro do Bumba. Foto: Prefeitura de Niterói/Divulgação

Morro do Bumba, local mais afetado pela tragédia, foi transformado em parque Prefeitura de Niterói/Divulgação

Conjuntos habitacionais

Cinco anos após a tragédia, em 2015, as chaves dos 374 apartamentos dos conjuntos habitacionais Zilda Arns I e II foram entregues aos moradores pelo então prefeito Rodrigo Neves (PDT), em um evento com representantes da Caixa Econômica Federal (CEF). Durante as obras, vários problemas estruturais surgiram, o que causou a demolição de um dos blocos e o atraso na finalização da construção. Nos últimos 10 anos, no entanto, os moradores do conjunto habitacional passaram a denunciar rachaduras nos prédios e problemas de falta de energia em um dos blocos.

“Tem muito problema de rachadura, mas o que reclamo daqui é a falta de comunicação da Caixa. Eles colocaram uma equipe para vigiar o solo, fazer o acompanhamento, ver se está afundando ou se está tremendo, só que nós, moradores, não temos acesso a esses laudos. A Caixa tinha que dar o direito aos moradores de ter acesso. Eu adquiri ansiedade depois das chuvas, então toda vez que chove, eu tenho crise. Queria ter o direito de saber como estão esses acompanhamentos”, protesta Adriana. 

Questionada sobre os problemas no condomínio, a Caixa informou, em nota, que os Residenciais Zilda Arns I e II foram contratados por meio do Programa Minha Casa, Minha Vida, a partir de Recursos do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), junto à Construtora Imperial Serviços Ltda., responsável pela obra e pela entrega das unidades habitacionais aos beneficiários, o que ocorreu em 2016. No texto, o banco afirmou que “acompanha a situação dos empreendimentos e vem promovendo os reparos necessários para solucionar vícios construtivos deixados pela construtora responsável pelos empreendimentos, inclusive com mapeamento das trincas de todos os blocos e execução de recuperação da alvenaria estrutural”. 

O banco também afirmou que contratou monitoramento técnico especializado para acompanhamento contínuo nos blocos do empreendimento, não havendo sinal de agravamento ou risco estrutural até o momento, e acrescentou que problemas relacionados à ausência de manutenções preventivas são responsabilidade exclusiva dos condomínios constituídos. Ainda, a CEF esclarece que “a Construtora Imperial Serviços Ltda. e seus sócios estão impedidos de operar em novos projetos com o banco”.

Com relação ao aluguel social, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos (SEASDH) informou à Agência Brasil que prevê reajuste dos valores do benefício e explicou que tem em seu escopo de planejamento e gestão de 2025 a revisão do recurso em função dos índices inflacionários. A pasta ressaltou que os valores são definidos de acordo com os decretos publicados em cada situação específica de calamidade ou emergência, englobando municípios com realidades de mercado de imóveis diferentes. 

Prevenção

Professor do Departamento de Geologia e Geofísica da Universidade Federal Fluminense (UFF), André Luiz Ferrari afirma que, em algumas encostas, “o melhor que se faz é não ocupar”.

“O que deveria ter sido feito é ter retirado a população dali [Morro do Bumba], buscado uma área que fosse razoável para aquelas pessoas que já estavam ali há muitos anos e ter construído moradias adequadas. Depois dessa tragédia no Bumba, se fez algumas obras de contenção das encostas. Hoje, tem um parque lá, recuaram a encosta, diminuíram a declividade e tiraram o material do lixão, mas isso deveria ter sido feito quando se parou de jogar lixo ali. Isso que teria impedido essa tragédia”.


Rio de Janeiro – 04/04/2025  professora Regina Bienenstein. Foto Arquivo pessoal

Professora da UFF Regina Bienenstein. Arquivo pessoal

Segundo a professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFF, Regina Bienenstein, um dos principais impactos de tragédias como essas é a constante sensação de risco, que leva moradores ao estado de alerta a cada vez que chove.

“Você pode perguntar: por que eles não saem? Eles não saem porque não tem alternativa, então ou eles moram ali, ou moram na rua, e onde é menos perigoso? Hoje, eu não sei”, avalia a pesquisadora. 

O Censo de 2022 mostra que Niterói concentra 15,73% (36.304) dos domicílios em favelas e comunidades urbanas. Ao todo, 86.983 pessoas residem em favelas na cidade, representando 18,06% da população total. A maioria se identifica como negra (73,26%), sendo 47,72% autodeclarada parda e 25,54% preta. 

No Indicador de Capacidade Municipal (ICM), do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Social (MIDR), Niterói surge entre os 1.972 municípios mais suscetíveis a ocorrências de deslizamentos, enxurradas e inundações a serem priorizados nas ações do Governo Federal de gestão de risco e de desastres. Com base em dados coletados de 1991 a 2022, a cidade possui 33.822 pessoas em áreas mapeadas como de risco geo-hidrológico, cerca de 7% da população total do município (481.758).

Para Bienenstein, Niterói carece de uma política de garantia de moradia a todas as parcelas da população, especialmente a mais vulnerabilizada. “Niterói precisa olhar para essa cidade popular, porque o Executivo municipal hoje não olha. Quando olha, é para fazer intervenções pontuais, que não garantem o direito à habitação, como a Constituição considera. A Constituição considera que o direito à moradia não é somente o direito a uma casa, mas também à acessibilidade, à mobilidade, a serviços, à infraestrutura e a não ter riscos”, defende. 

Investimentos municipais

A Prefeitura de Niterói afirma que tem investido em melhorias de infraestrutura nas comunidades da cidade desde 2013. Nesse período, mais de R$ 1,5 bilhão foi empregado em obras de drenagem, pavimentação e contenção de encostas em todas as regiões do município. Conforme a Prefeitura, “as ações acontecem de acordo com um trabalho criterioso de análise que segue o Plano de Gerenciamento e Prevenção de Riscos. Essas obras são essenciais para prevenir ocorrências graves em casos de chuva extrema”.

A pasta também informou que, desde 2013, a Defesa Civil de Niterói foi estruturada e realiza o monitoramento constante da cidade com sistema de alerta e alarme por 37 sirenes instaladas em locais estratégicos de 33 comunidades e 46 pluviômetros automáticos. Como uma das estratégias de resiliência, também foram criados 153 Núcleos de Defesa Civil (Nudecs) em diversas localidades, que contam com a participação de cerca de 3,4 mil voluntários para apoiar as ações emergenciais. 

Em caso de necessidade de evacuação das casas, a Prefeitura expressou que existe um planejamento e mapeamento de rotas de fuga com um ponto de apoio estabelecido para receber os moradores e acrescentou que, em 2024, foi instalado um novo radar meteorológico que permite maior previsibilidade e acompanhamento das tempestades, além de possibilitar estudos de mitigação de riscos e demais projetos voltados ao aumento da proteção do cidadão e da capacidade de resiliência do município.

“A Secretaria de Defesa Civil, Resiliência e Clima está implementando ainda um pacote de ações que aliam a experiência e técnica dos seus agentes com a captação de imagens de drones e satélites, mapas georreferenciados, sensores e robôs. As ações tecnológicas estão dentre os planos de tornar a cidade mais resiliente e envolver cada vez mais os moradores para minimizar os impactos das mudanças climáticas, como incêndios em vegetação e tempestades severas”, complementou.

Para o pintor Raphael Lacerda de Abreu, a falta de prevenção foi a grande falha da cidade na época do desastre. “Sempre pagamos tudo do terreno, IPTU, água, luz. Será que eles não conseguiriam fazer um levantamento dizendo que ali seria impróprio (para moradia)? Até no próprio Bumba, deixaram construir em cima de um lixão. Você sabe que vai dar ruim, que em algum momento vai ter problema”, continua.

“As pessoas se foram. O apagamento existe para quem não perdeu nada, sabe? Para mim, que perdi e perdi muito, não existe. Foram quatro pessoas, três da família, então, não existe apagamento”

Para o presidente da Associação de Vítimas do Morro do Bumba, Francisco Carlos Ferreira de Souza, se não fosse a participação de voluntários da cidade e de outros municípios, como São Gonçalo, o resgate das vítimas teria sido muito mais difícil. “Se não fosse a solidariedade das pessoas, não só daqui de Niterói, como também de outros estados, até chegarem o Estado ou o Município, demoraria muito”.

*estagiária sob a supervisão de Gilberto Costa.